* Por Alejandro Chocolat
A Inteligência Artificial (IA) não é um truque ou artifício. Não serve apenas para gerar novas listas de reprodução de música ou chatbots que, em última análise, não podem responder às suas perguntas no serviço de atendimento aos clientes.
De acordo com a PwC, a economia global poderá receber uma contribuição potencial de US$ 15,7 trilhões graças à Inteligência Artificial até 2030. Atualmente, essa tecnologia está ajudando o mundo a se tornar mais sustentável e contribuindo para que empresas de todos os tamanhos fiquem à frente da concorrência. Isso inclui abordar os três “P”s de sustentabilidade: pessoas, planeta e profit (lucro).
Os três “P”s sobre P&L (Profit & Loss – Lucro e perda)
Com a mudança climática em mente, a nova geração está motivada a se comprometer com políticas de longo prazo que proporcionarão um ambiente mais estável e uma vida mais equilibrada e agradável. Os atores industriais que não estão alinhados com essas metas de sustentabilidade têm ou terão dificuldades em encontrar uma força de trabalho futura e clientes ansiosos por investir em produtos e serviços que não representem seus valores. As companhias estão sendo cada vez mais avaliadas por seu envolvimento com os três “P”s de sustentabilidade indissociáveis e menos por seus resultados financeiros.
O modelo dos três “P”s está começando a ter uma influência maciça no mundo industrial. As Nações Unidas estão defendendo seus 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, enquanto empresas de todos os tamanhos e em todos os domínios, não apenas com pequenos nichos de atuação, estão adotando políticas de longo prazo. Grandes multinacionais, como a gerente de investimentos globais BlackRo ck, com sede nos EUA, estão oferecendo soluções de investimento sustentáveis. Os líderes do mercado de bens de consumo como a Adidas, Danone, Gucci e L´Oréal reconhecem que fortes iniciativas de sustentabilidade são um bom negócio.
A IA nos levará lá mais rapidamente. As iniciativas globais como a “AI for Good Global Summit” das Nações Unidas e o ”Google.org Impact Challenge”, evento anual do Google, com fundos de investimentos de US$ 25 milhões para a IA, estão ajudando a alimentar esse papel. Do lado da fabricação, a IA fortalece os três “pilares” principais alinhados com a métrica dos três “P”s para permitir que as empresas cumpram as metas de sustentabilidade: força de trabalho do futuro, otimização global das operações e orquestração de rede de valor.
Força de trabalho do futuro (Pessoas)
Criar a força de trabalho do futuro envolve capturar e transferir conhecimento e know how dos funcionários de hoje e capacitar as pessoas com tecnologia para criar experiências que estimulem à inovação e possam ajudar a construir um futuro mais sustentável.
A tecnologia digital facilita o compartilhamento de informações mais rapidamente em todo o mundo. As empresas devem adotar esta mudança de habilidades para se adaptarem às novas tecnologias e, assim, aumentar a autonomia de sua força de trabalho. Isso pode ser alcançado por meio de abordagens multidisciplinares ao aprendizado e treinamento ao longo da vida, combinando a sala de aula e o laboratório.
A Inteligência Artificial ajuda a tornar acessível as melhores práticas escondidas em documentos. Qualquer funcionário pode aproveitá-las para causar um impacto maior na empresa. Graças à IA, esse conhecimento pode ser entregue mais rapidamente, em escala inimaginável e no momento certo, por meio da utilização de realidade aumentada/virtual, plataformas colaborativas e 3D, tornando o treinamento mais intuitivo. Assim, a força de trabalho pode tomar decisões estando mais bem informada. A relação simbiótica entre a IA e as pessoas tornam ambas mais inteligentes.
Otimização de operações globais (Planeta)
Ao adotar práticas enxutas em todo o ciclo de vida do produto, as empresas podem minimizar sua pegada no ambiental global. Isso vai muito além da solução de problemas no chão de fábrica. Trata-se de avaliar e otimizar todas as operações, desde o design do produto até a engenharia de fabricação, otimização da cadeia de suprimentos e produção em um ciclo contínuo de feedback.
Eliminar o desperdício é a preocupação central da manufatura. Se livrar de qualquer coisa que não agregue valor em áreas críticas, como mover um produto desnecessariamente, excesso de estoque, erros ou sucata, requer tecnologia de IA que possa auto aprender com metas em constante evolução (vendas, estoques, recursos, capacidade etc.). A Inteligência Artificial pode também antecipar as compensações mais benéficas para limitar o desperdício.
Outro exemplo de prova de valor é na redução do consumo de energia. Há muito entusiasmo em torno da implantação de redes inteligentes que conectam produtores e consumidores, maximizando o armazenamento e o suprimento de energia na hora certa. A Inteligência Artificial prevê picos de consumo e ajuda na otimização em tempo real das configurações das operações.
Orquestração de Rede de Valor (Profit)
As atuais cadeias de suprimentos estão sendo substituídas por redes globais de valor – parceiros industriais unindo forças para redefinir sua contribuição para alcançar objetivos comuns de entrega. As plataformas digitais colaborativas que alavancam a Inteligência Artificial estão criando sustentabilidade em toda a rede de valor, ao mesmo tempo em que permitem a entrega de experiências únicas ao mercado. As empresas ganham visibilidade dos recursos e processos e como eles estão interconectados. Os fabricantes podem coordenar todas as partes interessadas de forma mais eficiente e ágil. Testar ideias, produtos e experiências que eles fornecem no mundo virtual antes de realmente produzi-los no mundo real pode levar à invenção de novas utilizações e de produtos que os suportem.
A Inteligência Artificial seleciona dados na velocidade da luz, avaliando milhões de cenários potenciais para encontrar as informações corretas. As empresas podem capturar, padronizar e analisar informações para avaliar os impactos ambientais e sociais de uma atividade de negócios e comunicar esses resultados para a tomada de decisão baseada em informações. As pessoas podem propor e testar os melhores cenários, simulando resultados por meio de uma experiência de Gêmeo Virtual para identificar as oportunidades certas e aplicar o que aprendem onde fizer sentido. Eles podem reduzir o desperdício e aumentar a eficiência – desde o design de produtos e embalagens, fornecimento de matérias-primas até o descarte e a recuperação de materiais. Por exemplo, duas empresas poderiam compartilhar recursos, como peças de reposição, logística ou até estoques. A Inteligência Artificial os ajuda a otimizar a capacidade de se tornar uma linha de produção auto-adaptável e mais produtiva.
Tornando o mundo real eficiente
A Inteligência Artificial é uma catalisadora de mudança. O problema mais desafiador é decidir como observar e viver no mundo; qual o referencial a ser utilizado para conectar e contextualizar quantidades exponenciais de dados? Somente os mundos virtuais fornecem a plataforma certa de observação e tomada de decisão para a fabricação. Ao acelerar o acesso aos mundos virtuais, a tecnologia de Inteligência Artificial está tornando o mundo real mais eficiente. Ela não apenas fornece novos insights e conhecimentos, ela permite que a indústria capture e compreenda a experiência e a reutilize para contribuir para uma vida mais equilibrada e agradável.
* Alejandro Chocolat é Managing Director da Dassault Systèmes para Brasil e América Latina.
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