A metodologia, desenvolvida pelo consulado britânico e implantada em seis países, ajudou na criação e no desenvolvimento de negócios criativos e sociais no RN com a parceria do Sebrae

Natal – Quem acessa as redes sociais ou ver o catálogo de divulgação das peças da Caju Maria Ateliê, marca de bolsas e acessórios artesanais feitos manualmente, logo percebe a filosofia do negócio e o cuidado para incluir modelos afro-brasileiros para demonstração dos produtos. A marca entrou no mercado potiguar em 2016, mas foi nos últimos dois anos que ganhou força com a estruturação da gestão de planejamento do negócio. Esse posicionamento se deve muito à metodologia do Programa de Desenvolvimento das Economias Inclusivas e Criativas (DICE) – do inglês Developing Inclusive and Creative Economies – que no estado conta com a parceria do Sebrae do Rio Grande do Norte.  

O programa é uma iniciativa do Consulado Britânico (British Council) para apoiar o desenvolvimento de economia criativa e negócios sociais no Reino Unido e em cinco países, incluindo o Brasil. No Rio Grande do Norte, o projeto vem sendo executado pelo Sebrae desde o ano passado. A proposta é impulsionar e estimular negócios de impacto social ou cultural, empreendimentos que contribuam para Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU e para o desenvolvimento inclusivo, organizações que trabalhem para as pessoas e o meio ambiente (e não somente para o lucro), pessoas e empresas do setor criativo que usem a sua criatividade para desenvolver produtos e processos, com foco também na inclusão de mulheres, minorias ético-raciais e pessoas LGBTQ+. 

O programa de capacitação incluiu cerca de 60 empreendedores potiguares, dos quais uma parte foi selecionada para os módulos seguintes para a segunda turma, contendo 54 negócios. Em agosto, 32 empreendedores finalizaram os últimos módulos, incluindo capacitações remotas devido à pandemia. Todo o programa foi estruturado em três pilares: aprendizado, mentoria e fortalecimento da rede. De acordo com a gestora do programa no Sebrae-RN, Ana Ubarana, durante o programa, esses empreendedores tiveram contato com especialistas de áreas como inovação, marketing, financas, gestão de pessoas, psicologia, compliance e propriedade intelectual. 

Wilza Santos, da Caju Maria Ateliê, está entre os participantes do programa, que deu um novo rumo para a gestão da empresa. “Tudo foi acontecendo muito na parte de produção e sentia falta dessa coisa da gestão, mesmo estudando muito assim sozinha e participando de alguns cursos avulsos. Mas, nada que me desse subsidio para estruturar a gestão passo a passo”, confessa. Com a metodologia DICE, cada módulo atacou uma área da empresa. “Assim, consegui olhar o todo e entender que sozinha posso não dar conta de tudo e que precisava agregar gente comigo”. Depois disso, passou a planejar a empresa a longo prazo, sem se concentrar somente na produção. Mesmo em meio à pandemia da Covid-19, a marca vendeu 129 peças. 

E Essa é a ideia do projeto, que se baseia na hipótese de apoiar o desenvolvimento de projetos criativos e negócios sociais como uma maneira eficaz de abordar questões, como desemprego, desigualdade e crescimento econômico para construir sociedades mais inclusivas. “A metodologia aborda de forma prática e dinâmica em seus conteúdos questões como autoconhecimento, tanto do negócio quanto do mercado em que está inserido, usa o design thinking e a parte de gestão propriamente dita, com noções de marketing, gestão de pessoas, finanças, prototipagem e a parte psicológica, gestão colaborativa e participativa, criando essa noção de rede e de conexão entre esses empreendedores”, ressalta uma das instrutoras da metodologia, a consultora Sara Cassiano. 

Negócios multiplicados

O resultado dessa abordagem não poderia ter sido melhor e fez diferença para Jéssica Fernandes, que integrou uma das turmas. Os conhecimentos repassados ampliaram a visão empreendedora e ela multiplicou a quantidade de negócio com a inclusão de grupos em redes. Já possuía uma gráfica para impressão de camisetas e, com a visão do programa, decidiu estimular a comunidade local, da zona Norte de Natal, a participar do empreendimento, fazendo linhas personalizadas.  

“Além desse trabalho, estamos lançando uma linha de embalagens sustentáveis e, em parceria com uma associação do município de São José do Mipibu, estamos desenvolvendo ecobags”, anuncia. As bolsas são confeccionadas por pessoas de duas comunidades carentes, que usam a tipologia fuxico e outros tipos de artesanato nas peças. Jéssica fica responsável por ensinar a arte da serigrafia para um grupo de 30 mulheres. “Estamos fazendo o projeto acontecer. Elas cortam, fecham e costuram as ecobags, que são vendidas no comércio local”. Na galeria, onde está instalada a gráfica, a empreendedora abriu ainda um negócio de alimentação fora do lar e vai lançar, ainda este ano, uma cooperativa de bikes para entregas.  

Essa visão ampliada de como é importante empreender envolvendo comunidades é fruto do que absorveu do programa, já que a metodologia busca a valorização e o fortalecimento das habilidades e iniciativas empreendedoras. “Os encontros contribuem muito no processo de aprendizagem, além de proporcionar uma maior interação entre os conteúdos ministrados e as implicações práticas no dia a dia dos negócios”, explica o consultor Mário Sérgio Correia. 

Durante os seis módulos, os participantes puderam ter uma experiência prática e criativa permeada por paixão, entrega, compromisso, engajamento e muito aprendizado, pois o DICE procura acolher, valorizar e fortalecer, nos negócios, propósitos, como criatividade, sustentabilidade, empoderamento, protagonismo, liderança, autoestima, inclusão e diversidade. “Assim, conseguimos desenvolver um ambiente propício para que as pessoas se sintam fortalecidas ao ressignificarem seus negócios, validá-los e refiná-los”, destaca Mário Sérgio.

Doces sonhos empoderados 

A chef confeiteira Deborah Sanders já tinha um negócio, que começou como uma fonte de renda alternativa, a Lovely Confeitaria. Porém, o programa a ajudou a encontrar o seu lugar no mundo, como empreendedora. Ela virou instrutora de confeitaria e, paralelamente,  impulsionou o negócio. “Foi assim, um divisor de águas. O primeiro módulo já foi muito impactante porque a gente começa fazer uma autoanálise de quem a gente é e qual o nosso lugar no mundo, nosso propósito. Isso reflete muito no negócio. O meu sentimento, o meu foco e a minha vontade se tornaram muito evidentes”, conta. 

Todo o conhecimento adquirido a estimulou a colocar em prática o aprendizado e abriu a primeira mentoria com 14 confeiteiras inscritas. “Foram seis semanas de trocas ao vivo no aplicativo Zoom. Quanto mais eu falava, mais confiante eu ficava sobre o meu próprio negócio. Desde março, estou 100% dedicada ao meu negócio e, em quatro meses, eu já estava faturando equivalente ao que eu faturava com carteira assinada há sete anos”, conta. Segundo Deborah, o programa revelou a força e o poder de empreender. “Em cinco meses, coloquei tudo em prática e hoje eu sou uma empreendedora com grandes planos, sou professora de confeitaria onlinee e sou mentora de outras confeiteiras”, enfatiza Deborah, que continua com o seu ateliê em funcionamento.

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