* Por Anderson Arcenio  

70 mil novas vagas em média por ano para profissionais de tecnologia até 2024: esta é a demanda projetada pela Brasscom, Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação, em um estudo apresentado em 2019.

Sabemos que projeções podem ser falhas, ainda mais considerando eventos únicos nos tempos modernos, como uma pandemia, mas se analisarmos fatores como o aumento da maturidade do ecossistema brasileiro de inovação e o crescimento do número de novas startups, a explosão no surgimento de lojas virtuais e o aumento das vendas online, além de tantas outras empresas que estão passando por transformações digitais – inclusive aceleradas pelo período pandêmico, vemos que a demanda por profissionais nessas áreas realmente tende a aumentar.

Ainda no relatório de Inteligência e Informação da Brasscom, encontramos dados sobre o Brasil formar hoje cerca de 46 mil pessoas com perfil tecnológico por ano, com desproporção geográfica entre oferta e demanda de mão de obra. Lembra que vimos uma estimativa da necessidade de 70 mil novos profissionais a cada ano? Nesse caso, observamos um grande déficit no mercado.

Mas já que atualmente as fontes tradicionais de formação não são suficientes para suprir a demanda por profissionais da área, como podemos buscar outras formas de qualificação no curto prazo? Afinal, não deveríamos aceitar o fato de existir de um lado oportunidades e de outro, pessoas que as querem sem as qualificações ou experiência profissional para acessá-las, especialmente em um país onde o número de desemprego bate recordes.

Precisamos melhorar a principal fonte que temos hoje

Antes de listarmos algumas alternativas, é necessário comentarmos sobre a principal fonte que temos hoje de formação em tecnologia, bacharelados e tecnólogos. Apesar de vermos uma quantidade inferior de pessoas formadas em relação ao total projetado de vagas, ainda temos um número bastante representativo. 

Sabemos que muitas das instituições de ensino superior colaboram e muito com a formação do pensamento crítico e raciocínio lógico dos seus estudantes, e proporcionam um conjunto de possibilidades para além do direto aprendizado de algumas competências técnicas.

Entretanto, se comparamos a grade curricular dessas formações com as necessidades atuais do mercado, vemos uma grande lacuna que precisa ser adequada. As linguagens de programação mais modernas e populares, assim como suas ferramentas e aplicações, precisam também estar presentes no currículo de uma pessoa que se dedica de 2 a 4 anos, ou mais, em formações nesta área.

Esses profissionais saem preparados para assumir as oportunidades disponíveis no mercado? Aqui, vale refletir sobre como tem sido a adaptação aos desafios reais que são postos quando começam suas carreiras. E também buscar outras alternativas de solução

Para um problema tão crítico, que acaba por dificultar o progresso em empresas que querem contratar, precisamos ampliar nosso leque de soluções:

Flexibilização dos requisitos para as vagas

Temos visto nos últimos tempos ao menos dois requisitos que limitam o acesso a talentos serem despriorizados: a localização demográfica de determinado profissional devido ao avanço do trabalho remoto e também a exigência do diploma em uma graduação na área para ingresso em certas vagas. 

Diversas grandes empresas estão adotando um novo posicionamento, o que acabará influenciando muitas outras a acompanharem, a mudança no cenário também depende dessa movimentação. As empresas precisam estar focadas em encontrar pessoas que se conectem com sua cultura e tenham capacidade de execução para a função, independente de onde estejam ou como conseguiram adquirir seus conhecimentos e habilidades.

Novas formas de capacitação

Com o avanço da internet, temos uma abundância de conteúdo disponível, muitos de qualidade, tanto gratuitamente em plataformas como o YouTube ou com baixo custo em plataformas como a Udemy. 

Mais do que isso, estão surgindo novos modelos de escola 100% digitais e programas de aprendizado acelerado, como os bootcamps. E também algumas focadas em empregabilidade, como a Newtab Academy.

Oportunidades para profissionais iniciantes

Em uma área tão aquecida, dificilmente um profissional experiente, seja ele considerado pleno ou sênior, ficará sem uma oportunidade de trabalho. Entretanto, quando este profissional deixa uma empresa para ir para outra, no geral, a vaga não preenchida se mantém, só acontece então o movimento de faltar um profissional em outro lugar. E com isso o mercado não se oxigeniza na velocidade que precisamos.

Uma alternativa importante nesse aspecto é criarmos um planejamento de médio prazo e ampliarmos as oportunidades para profissionais iniciantes, pessoas que têm muita vontade de começar suas carreiras e colaborar com as empresas que lhe dão espaço.

Por fim, precisamos reconhecer como todos nós, que já começamos um dia, sabemos a importância das primeiras oportunidades. E diante de todo o contexto que vivemos, essa abertura é fundamental não só para aquela pessoa que está iniciando sua própria carreira, mas também para toda a construção de uma nova geração de profissionais que tanto precisamos no Brasil.

Com certeza essas não são as únicas alternativas, tão pouco serão totalmente suficientes, mas precisamos agir no hoje se queremos ver e participar dessa mudança de cenário no nosso país.


Anderson Arcenio empreende com startups há mais de 10 anos e trabalha com projetos digitais desde 2004. Bacharel em Sistemas de Informação pela Unesp Bauru e pós-graduado em Gerenciamento de Projetos, hoje é sócio de algumas empresas e CEO da Newtab Academy e da FCJ Venture Builder Bauru.

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