* Por Vinícius Cordoni
Apple (AAPL), Microsoft (MSFT), Amazon (AMZN), Alphabet, dona do Google (GOOGL), Facebook (FB) e Tesla (TSLA). Seis empresas de tecnologia que possuem, entre elas, 25% do valor de mercado de todas as companhias listadas no índice S&P 500. Um caminho sem volta – e que foi potencializado ainda mais durante a pandemia, em 2020.
Talvez por isso chame tanta atenção a notícia de que Jeff Bezos sairá do posto de CEO da Amazon. Trata-se do homem mais rico do mundo (com o excêntrico Elon Musk na sua cola) deixando o comando da terceira maior companhia dos EUA em valor de mercado, que ele próprio construiu do zero.
Quando digo do zero, quero dizer da garagem de uma casa alugada nos subúrbios de Seattle, nos EUA, em 1994. E com os pais investindo US$ 250 mil de suas poupanças. O ainda nerdão e igualmente gênio Jeff tinha acabado de largar seu trabalho em um hedge fund e decidiu vender livros online.
A Amazon abriu capital três anos depois, em 1997, e foi incorporando cada vez mais produtos ao seu e-commerce. Mas os papéis não deslancharam de cara. Investir na internet não era algo tão seguro assim (vide bolha do dot com) e a empresa demorou –muito– para esboçar qualquer tipo de margem de rentabilidade.
Bezos venceu o mercado por cansaço. Expandiu seu comércio digital para 15 países; criou produtos como o Kindle; desenvolveu uma plataforma de streaming (e uma produtora); comprou um jornal; investiu em inteligência artificial… e entrou no mercado de cloud, que já é a grande avenida de crescimento da empresa – atualmente, esse braço já representa 52% do faturamento do grupo.
Amazon Web Services, ou AWS, é a plataforma de serviços de computação em nuvem do Frankenstein criado pelo empresário. E, numa companhia que, apesar de ser de tecnologia, tem quase 1 milhão de funcionários e vários prestadores de serviço espalhados pelo mundo, os processos computacionais precisarão ser cada vez melhores.
Não por acaso, o novo CEO da gigante será o cara por trás da criação da AWS e velho aprendiz de Bezos, Andy Jassy. Ele entrou para a Amazon em 1997, depois de se formar em Harvard, e criou a Web Services como uma startup em 2003, incubada dentro da Amazon e escalada exponencialmente.
Trata-se, no fundo, de um movimento natural do mundo corporativo. Todos os fundadores de empresas precisaram abdicar da liderança em algum momento. No caso das Big Techs, vemos este movimento ocorrendo pela primeira vez nas últimas décadas, completando o ciclo de consolidação da tecnologia e da internet.
E, se o que ocorreu nas outras empresas do segmento (Microsoft, Apple, Google) que já trocaram de comando serve de referência, a Amazon deve continuar destruindo recordes no mercado financeiro e ampliando sua teia de capilaridade ao redor do globo.
Seria injusto afirmar, por exemplo, que Tim Cook chega aos pés da criatividade de Steve Jobs. Mas foi na gestão dele que a Apple alcançou o pornográfico valor de mercado de US$ 2 trilhões. Ou então, que Sundar Pichai é tão visionário quanto Sergey Brin e Larry Page. Mas o indiano também levou o Google ao próximo nível.
Sem esquecer, é claro, de Satya Nadella, que assumiu a Microsoft em 2014, após gestões de Bill Gates e Steve Ballmer. Com background no segmento de nuvem, como Jassy, Nadella digitalizou o domínio que a empresa já tinha em software. Ou seja, o processo nada mais é do que uma sucessão entre gênios.
Posto isso, e confiando no processo de renovação e adaptação dessas novas potências, só nos resta imaginar qual será a próxima a mudar. Mark Zuckerberg, apesar de demonstrar apreço ao cargo, é um dos poucos que resta. E, quando isso acontecer, para onde o Facebook vai?
* Vinícius Cordoni é CEO do Grupo VCRP Brasil.
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