Esta semana ocorreu a edição especial AGTECH da mais importante imersão no ecossistema de inovação e startups do País: o Startupi Innovation Tour. A edição setorial focou na inovação no Agronegócio e reuniu os líderes da SP Ventures, Agronow, Agrihub e Raízen.
Criado há 4 anos, o evento é uma oportunidade única de conhecer de perto os bastidores das empresas e startups mais inovadoras do Brasil, ter contato com diversos casos de sucesso e interagir com os anfitriões. O encontro foi mediado por Fernanda Santos, editora-chefe do Startupi e marca o inicio da temporada 2021, que terá um total de 39 edições.
Confira os principais destaques:
SP VENTURES
Criada em 2007 dentro do Fundo Criatec, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), a SP Ventures é hoje uma das gestoras de Venture Capital mais tradicionais do País especializada no agronegócio. Francisco Jardim, sócio-fundador da empresa, abriu o Startupi Innovation Tour falando sobre a posição de destaque do Brasil em relação ao mundo quando o assunto é agro. “É uma fonte de orgulho enorme que a gente tem, e quanto mais você estuda, mais orgulho ele traz”.
Ele lembrou que a SP Ventures não nasceu focada no agronegócio, mas sim como um fundo generalista, focado em tecnologia. Entretanto, segundo Jardim, não demorou muito para a companhia se aprofundar no mercado e entender as oportunidades de investimento. “A gente estava olhando para um cenário em que até 2050, a população mundial ia crescer e a íamos ter pelo menos, um aumento de 50% no consumo de proteína per capita de alguns desses países. Esse é exatamente o dilema que estamos enfrentando hoje”, disse.
Francisco também chamou a atenção para o surgimento de uma indústria de serviços financeiros para o agro, as chamadas “agrofintechs”, que deve movimentar o mercado nos próximos anos. “Há muita tecnologia focada em transformar o produtor resiliente à mudança climática, de computação na nuvem, democratizando o acesso ao conhecimento agronômico”. De acordo com o sócio-fundador, o agro tende a ser uma das últimas grandes verticais a serem desenvolvidas por tecnologias digitais, tanto em alfabetismo digital no campo, quanto na infraestrutura de conectividade.
Em relação às potencialidades oferecidas pela agricultura, o gestor destacou a vantagem do Brasil comparado a outros países. “A gente é a maior agricultura tropical do mundo. Quando a gente pega as maiores agriculturas como Europa, Canadá e Estados Unidos, são agriculturas temperadas, uma safra por ano, completamente diferente. E o que a gente foi percebendo é que as tecnologias criadas para agriculturas temperadas “apanham” muito aqui na nossa agricultura”. Jardim também reforçou o fato do País possuir um dos ecossistemas de produção de ciência e conhecimento mais robustos do mundo, citando o papel imprescindível das universidades neste sentido. “É uma integração entre polos muito forte”, pontuou.
Ele destacou ainda que, apesar da crise provocada pela pandemia do novo coronavírus, o Brasil vive um período satisfatório no que diz respeito à agricultura. “Eu acho que a gente está num momento bacana. É um setor que demonstrou uma super resiliência e muitas oportunidades na crise. A gente vê que nesse tipo de crise é quando algumas das melhores empresas são formadas, estamos conseguido mostrar que os principais investidores do agro no mundo estão vindo para o Brasil, continuam apostando no nosso agronegócio. E a nossa vocação é estar junto e apoiar os melhores empreendedores do agro que queiram realmente tornar a agricultura mais sustentável, produtiva e competitiva”.
Por fim, deixou uma dica para quem deseja investir no segmento. “O mercado está mudando muito, então é preciso estar muito a par do que está acontecendo. Veja quem está investindo em quem e quais os novos modelos de negócios que estão sendo testados”, finalizou.
AGRONOW
A segunda empresa a ser visitada foi a Agronow, plataforma de ciência de dados que utiliza tecnologias de ponta – principalmente inteligência artificial – aliada a dados de satélites para fornecer constantemente informações confiáveis de campo à cadeia do agronegócio. “Nós conseguimos gerar dados desde uma cidade inteira, como numa área pequena ou mesmo em uma área micro, que seria no nível fazenda”, conta Rafael Coelho, CEO da empresa.
Nascido em uma família de produtores rurais, o gestor trouxe sua experiência no mercado de trading para desenvolver a tecnologia aplicada pela Agronow, cuja qualidade dos dados é medida de forma bastante assertiva. “A nossa tecnologia, que mede a qualidade de identificação de safras, é de 98,7% para cana e 98,5% para soja. Boa parte dos modelos no mercado hoje identificam muito bem um dado, mas deixam muitos de fora. No nosso caso, a gente tem os dois. Você consegue fazer comparativo entre as áreas”, apontou. “Temos uma gama de dados muito grande dos produtores do Brasil, e conseguimos gerar uma grande quantidade de leads de fazendeiros. Nós conseguimos trazer isso através de facilitadores, cooperativas ou qualquer tipo de player que traga essas informações”, completou.
Sobre a inovação no setor, potencializada pela agricultura 4.0, Coelho afirma que o segmento já está em um momento mais avançado, no qual a inteligência artificial adquire um papel importante e permite a evolução de qualquer produto. “Isso vai passar a ser uma necessidade para qualquer empresa, e não um diferencial. À medida que as empresas começam a se adaptar a isso e usar mais inteligência artificial, poderemos fazer uma mudança tão grande da qualidade dos produtos que tenho certeza que vamos realmente mudar o mercado como um todo”, finalizou.
AGRIHUB
O Agrihub marcou presença na edição AGTECH do Startupi Innovation Tour. Nascida em 2016 no Mato Grosso, a iniciativa é conhecida nacionalmente por ser uma rede de inovação em agricultura que conecta produtores, startups, mentores, empresas, pesquisadores e investidores, criando um ecossistema de inovação e empreendedorismo no agronegócio por meio da adequação de soluções tecnológicas de empresas agro. A iniciativa é fruto de uma parceria entre a Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato), do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar – MT) e do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea).
Otávio Celidonio, Diretor Executivo do Agrihub, falou sobre as tecnologias desenvolvidas pela empresa voltadas a resolver os problemas do campo. Segundo ele, o grande desafio enfrentado pelos produtores ainda é escolher uma solução que seja mais adequada para a sua realidade. “Nós percebemos que determinadas soluções são adequadas para um produtor, mas para outro não é a ideal. Às vezes, a solução é boa para aquele produtor, mas ele ainda não está maduro para utilizar aquela tecnologia”, afirmou.
A iniciativa também possui várias frentes de atuação. Uma delas é a de difusão tecnológica, na qual, em parceria com a Universidade Federal de Viçosa (UFV), é possível identificar os processos comuns que acontecem em qualquer propriedade rural. “A partir de um mapa padrão de processos, a gente começa a mapear também as tecnologias que existem e diminuir esse gap de comunicação que existe. Às vezes, a startup vem para conversar com o produtor e apresenta a solução dele na visão da tecnologia. E para o produtor muitas vezes isso não significa muita coisa”, contou Otávio.
Uma outra frente de atuação está relacionada à inovação aberta, que demandou a criação do Agrihub Space. A iniciativa conta com a parceria de grandes empresas para o desenvolvimento de tecnologias. “Nós olhamos as demandas dos produtores, buscamos convergir com as empresas parceiras e fazemos o trabalho de buscar startups que queiram adaptar a solução delas para essa necessidade. A partir daí, desenvolvemos as provas de conceito e levamos a solução deles para os produtores rurais, trazendo benefício para o ecossistema local. A gente percebe hoje a urgência do produtor em ter soluções que sejam rapidamente aplicáveis em suas propriedades”.
Já na frente de orquestramento setorial, o Agrihub busca se alinhar com diversos players importantes do segmento agro como empresas que, em geral, podem ajudar a desenvolver soluções para os problemas existentes no Brasil nessa área, especialmente no Mato Grosso. “Temos um projeto bem importante na área de conectividade, para ajudar a levar a tecnologia 4G para o campo. Outro para a rastreabilidade, que também é algo que avançando, e entendemos que tem um potencial muito importante. E são projetos de base. A gente não está defendendo uma startup ou uma empresa, mas sim criar um padrão entre esses diferentes players para que a possamos ter uma solução importante para o setor”, apontou Celidonio.
Por fim, o Diretor Executivo destacou o que ele considera que sejam as dores dos profissionais dessa área. “A educação é um dos grandes desafios, além da conectividade, previsão climática, compartilhamento de informações, segurança da fazenda e a classificação de grãos. Todo lugar tem potencial para melhorar”, disse. “A agricultura é desafiadora, é feita a céu-aberto, tem muito campo para trabalhar. A ideia é que com o tempo, seja possível não só identificar as dores, mas verificar onde há mais soluções olhando todo o negócio do produtor”.
Ainda durante o imersão os participantes puderam conhecer o espaço do Agrihub Space em um tour virtual comandado por Eloiza Zuconeli, Coordenadora da Rede de Fazendas Alfa.
RAÍZEN
A Raízen, empresa integrada de energia com presença nos setores de produção de açúcar e etanol, distribuição de combustíveis e geração de energia, encerrou a edição AGTECH do Startupi Innovation Tour. A companhia atua em várias frentes, como através de ações que visam transformá-la em uma influenciadora no ecossistema de inovação, além de iniciativas que buscam fortalecer a marca por meio da tecnologia.
O monitoramento e conexão com startups também é um outro diferencial da companhia. Por conta disso, em 2017, a Raízen lançou o Pulse. Localizado em Piracicaba, interior de São Paulo, funciona como um hub de desenvolvimento de tecnologias agrícolas e que expandiu sua atuação sendo um ponto de encontro entre Startups, Corporações, Investidores, Entidades e Universidades.
“O principal objetivo do Pulse é o de buscar startups que possam fazer o teste da sua solução dentro da Raízen, o que a gente chama de piloto. Em três anos como Pulse, nós já executamos mais de 70 pilotos. Temos um contrato comercial onde eu realmente identifico uma dor dentro da Raízen, busco uma startup que consegue resolver aquela dor e eu faço um desenho de um MVP onde eu quero testar aquela aderência daquela solução”, destacou Pedro Leal Noce, Gerente de Inovação Digital da Raízen.
Leal destaca que ao todo, dos 70 pilotos indicadores de sucesso dessa jornada de inovação do Pulse junto à Raízen, 25 startups em escala comercial já fecharam contrato junto à empresa. Para ele, trazê-las para dentro da empresa contribui diretamente para acelerar a transformação digital.
“O Pulse também é um ambiente questionador. Quando estamos acostumados a trabalhar em grandes empresas, buscamos soluções para problemas que, muitas vezes, nós não temos certeza se é a nossa causa raiz. Por isso, a gente adota muito a metodologia do duplo diamante, de fazer uma análise, idealizar melhor a solução para aí sim, ir para o mapeamento de startups. Ao invés de procurar a solução diretamente, deixa eu entender se aquele problema que eu estou atacando é o meu principal problema”.
Ricardo Campo, Gestor do Pulse e um dos anfitriões do evento, também reforçou os desafios enfrentados pelo hub em relação às iniciativas que buscam promover a inovação no agro. “Não é fácil arriscar uma lavoura que tem um ciclo de 5 anos. Às vezes, uma opção técnica na primeira safra vai comprometer os cinco anos seguintes. Ter essa fronteira, esse ambiente, é como mitigar o risco, ter a nossa referência de como a gente trabalha. Entendemos esse receio, é natural.
Ainda para Campo, desde a criação do Pulse até os dias atuais, muita coisa mudou em termos de tecnologia para o agronegócio. “Tivemos uma missão de primeiro habitar o espaço. Depois, entendemos que existem ondas, (safra, entressafra) e começamos a entender que existem momentos. É um lugar que precisa ser adequado em termos de metodologia, mas estar disponível para quando esses parceiros precisarem. Então essas coisas foram se consolidando, e conseguimos também fazer o cardápio do que a gente pode oferecer, trabalhando muito com as áreas de suporte, isso fez a diferença. O time também cresceu”, contou.
A Raízen também promove diversos programas voltados à inovação, como hackathons, visitas de campo, workshops, dentre outras atividades. De acordo com Pedro Leal, o principal desafio para inovar dentro da companhia é o de estabelecer uma autonomia para os times de forma que o erro seja o menor possível.
“Somos uma grande empresa que tem sua questão de processos, de segurança, sua aversão ao erro, que é importante ter, porque nós estamos falando de vidas. Como estabelecer “guard rails” seguros, mas que ao mesmo tempo não impeçam a velocidade. É como você realmente dar autonomia para os times, dar a possibilidade de errar, mas que seja aquele erro pequeno. Nosso principal desafio é trazer para dentro dessa grande empresa a metodologia para começar pequeno e aí sim, a gente crescer”, finalizou.
De acordo com Fernanda Santos, este ano o Startupi Innovation Tour irá acontecer em todo Brasil. “Serão 39 edições ao longo do ano, uma em cada Estado do País com foco nas Comunidades inovadoras e mais 9 edições Setoriais, como Fintech, Healthtech, Edtech, entre outras”, conclui.
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