Artigo do presidente do Sebrae, Carlos Melles, destaca que um mercado de financiamento mais acessível para os pequenos negócios, combinado com maior qualificação pode gerar crescimento econômico e desenvolvimento social no país
Por Carlos Melles, presidente do Sebrae
A pesquisa “Sobrevivência das Empresas 2020”, realizada pelo Sebrae, confirmou a dimensão do impacto que a pandemia de Covid-19 teve no fechamento de negócios no ano passado. De acordo com o levantamento, 41% dos empresários com até cinco anos de atividade e que fecharam as portas em 2020 apontaram a crise sanitária como maior responsável pelo insucesso. Nesse contexto, 22% dos empreendedores destacaram que a falta de capital de giro foi fator crucial para o fim do negócio.
Ao longo de todo o ano de 2020, o Sebrae acompanhou de perto a evolução do cenário do crédito no país. Em abril, um levantamento feito pela instituição identificou que apenas 11% das empresas que buscaram o crédito tiveram seu pedido aprovado. Com a adoção de um conjunto de medidas pelo governo federal, com destaque para a criação do Pronampe, o acesso dos pequenos negócios a empréstimos evoluiu de forma significativa. Na pesquisa mais recente (março), o percentual de sucesso nos pedidos de empréstimo havia saltado para 39%.
Apesar disso, percebemos que a concessão de crédito continua concentrada nas empresas de maior porte e nos empreendedores que já têm um relacionamento bancário, uma realidade distante da maioria das MPE. Desse modo, a cada R$ 5 emprestados às empresas, apenas R$ 1 foi concedido aos pequenos negócios no ano passado. A despeito de 2020 ter sido um ano marcado pela expansão dos empréstimos às empresas da chamada “economia real”, a participação das MPE nesse “bolo” continua muito pequena e aquém das necessidades do setor, que responde por 99% das empresas do país e 55% dos empregos formais.
Esses números apontam para a importância do governo e do Congresso Nacional continuarem empenhados no desenvolvimento de políticas públicas que protejam os pequenos negócios, em especial os microempreendedores individuais (MEI). O estudo de sobrevivência do Sebrae mostrou que esse é o segmento onde a maior proporção de empresários encerram as atividades em até cinco anos após a abertura da empresa. Segundo o levantamento, 29% dos empreendimentos desse porte não superam esse estágio inicial. Entre as microempresas, a mortalidade cai para 21,6% e entre as empresas de pequeno porte, o percentual de mortalidade cai para 17%.
O Brasil é um país empreendedor e os donos de pequenos negócios são o verdadeiro motor da economia, que segura a geração de empregos no nosso país. Por isso, é tão importante assegurar o suporte a esses empresários, por meio da facilitação de acesso a crédito, da criação de um ambiente favorável e da ampla oferta de consultorias e capacitações que permitam o aprimoramento da gestão e a incorporação de inovações. É nesse cenário que o Sebrae desempenha um papel fundamental de fomentador do empreendedorismo.
Para capacitar os empresários no enfrentamento da crise, a instituição ampliou a oferta de capacitações e consultorias, bem como disponibilizou um cardápio com mais de 130 cursos online e gratuitos que podem ser feitos por meio do portal da instituição, permitindo que qualquer pessoa, mesmo quem ainda não tem um negócio formalizado, possa se qualificar. O resultado dessa iniciativa foi um recorde de 2,5 milhões de matrículas em 2020.
Temos convicção de que um mercado de financiamento mais acessível para os pequenos negócios, combinado com maior qualificação e capacitação, poderá gerar não somente maior crescimento econômico, mas sobretudo maior desenvolvimento econômico e social no país.
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