Um estudo divulgado pelo Panorama dos Resíduos Sólidos Brasil, mostra que em 2019, o setor de resíduos respondeu por 4% do total de emissões de gases de efeito estufa no país, o que corresponde a 96 milhões de toneladas de CO2 – equivalência em dióxido de carbono.

A reciclagem funciona como uma grande aliada do meio ambiente. Na mitigação desses impactos ambientais, ela é responsável por reduzir a quantidade de resíduos e contribui com o processo de reaproveitamento dos materiais descartados, dando origem a um novo produto ou uma nova matéria-prima.

Ana Arsky, especialista em reabilitação urbana sustentável, CEO e fundadora da 4 Hábitos para mudar o mundo, startup que usa tecnologia para ajudar empresas a transformarem gestão de resíduos em indicadores ESG, acredita que não conseguiremos mudar o mundo sozinhos, mas de forma coletiva podemos causar uma grande revolução.

Formada em Arquitetura e Urbanismo, Ana fez uma mudança radical na sua carreira: após se sentir insatisfeita com o que fazia há 22 anos, ela precisava de algo que a desafiasse, afinal já tinha uma grande bagagem, um equilíbrio, de certo, um conhecimento acumulado, que a proporcionou recomeçar de forma rápida.

Durante a mudança de carreira, ela conta que passou por um processo de autoconhecimento. “Esse processo trouxe algumas teorias da Universidade de Brasília na minha mente, e uma delas é que o ser humano automatiza tudo. Então, ele leva três meses para transformar um hábito novo em uma prática automática, na área de resíduos acontece da mesma forma, precisamos mudar os paradigmas, parar de repetir os maus hábitos, e assim, reduzir os efeitos estufas, gases de carbono e impactos ambientas”, conta Ana.

Com objetivo de mudar o mundo em um ano, ela dividiu doze meses por três que resultou em quatro, e a partir desse processo, buscou saber e entender quais seriam os 4 hábitos que conseguiriam fazer a diferença no planeta, e a resposta foi: 1 – Separar resíduos; 2 – Reduzir a quantidade de resíduos jogados no lixo (ou seja, reciclar); 3 – Se dedicar durante três meses a recuperar uma parte da natureza que foi degradada (como plantar uma árvore); 4 – Incentivar, todos os dias, durante três meses, uma pessoa a praticar esse manifesto.

Depois do processo de redescoberta, em 2019, surgiu a startup 4 hábitos para mudar o mundo, empresa que saiu do imaginário de uma mulher, que deixa claro a dificuldade de ser empreendedora em um mercado majoritariamente dominado por homens. A plataforma registra os resíduos através de fotos usando um dispositivo móvel ou tablet, e a Inteligência Artificial transforma os dados num Dashboard de controle para as empresas acompanharem e terem controle sobre os desperdícios provocados por elas.

A startup geralmente entra em contato com as corporações, ou as empresas entram em contato com a startup para formar uma parceria benéfica tanto para o cliente quanto para o meio-ambiente. A startup, no caso, fica responsável pela reciclagem e reutilização das matérias-primas. “Funcionamos como uma vacina, não é a cura e nem a vitamina, mas a prevenção do problema”, comenta a CEO.

COP 26: As empresas são as grandes responsáveis pelo aquecimento global?

“Sem dúvidas, porque o impacto delas é muito maior em termos de escala. Claro que existe uma responsabilidade compartilhada, mas, quando colocamos a população em comparação com as grandes corporações, notamos que há uma discrepância enorme. Porém, preciso ressaltar que a indústria está preenchendo uma necessidade da população, portanto, não tem como a indústria fazer logística reversa se o consumidor continuar satisfazendo às suas necessidades comprando produtos tóxicos”, comenta a CEO.

Recente pesquisa realizada pelo Instituto Capgemini Research aponta que 79% dos consumidores estão mudando suas preferências de compra com base na responsabilidade social, inclusão ou impacto ambiental. Além disso, a Covid-19 aumentou a consciência do consumidor e o compromisso de comprar de maneira sustentável: 67% dos consumidores disseram que serão mais cautelosos com a escassez de recursos naturais devido à crise da pandemia.

Ana ressalta que as empresas precisam virar a chave e fazer isso de uma forma muito clara. Inclusive, ela afirma que é necessário criar projetos que resolvam as emissões de metano produzida pelas corporações. “Existem dois tipos de empresas: as que querem ser as melhores do mundo e as que querem ser as melhores para o mundo. A primeira vai passar por um estresse ambiental gigante e chegará a ser tóxica para os seus colaboradores, o que irá resultar na perda de ações, talento e valor. Já a segunda está preocupada em ter qualidade de vida, então, ela irá atrair e reter os melhores talentos”, completa Ana.

Programas que acreditam nos 4 Hábitos para mudar o mundo

A startup que nasceu em Brasília, hoje está localizada em Florianópolis, Santa Catarina, região que, segundo Ana, possui um ecossistema de startups bastante favorável. “É tão difícil empreender, quem não tiver toda uma torcida do Flamengo te empurrando para frente acaba desistindo. Aqui temos muitos programas de aceleração, e todo o ecossistema é também bastante impulsionado pelo SEBRAE e participamos da comunidade da Ambev, que nos ajuda a manter e fazer muitos networking”.

A 4 Hábitos, participou de muitos programas de aceleração sendo eles: CAMP 8 da Cotidiano, Famele Scale do Distrito, Inovativa Brasil, realizado pelo Sebrae de Santa Catarina em parceria com a Bossanova Investimentos, entre outros. A startup também foi uma das finalistas do programa Inova Santa Catarina, ficando em 4º lugar, e recentemente foram destaques no Inovativa de Impacto, como uma startup de tecnologias verdes e espaço sócio ambiental.

A startup, que tem como cliente a Ambev e atualmente atende 16 estabelecimentos de 7 empresas, atua em todas as regiões do Brasil, com presença em Minas Gerais, Distrito Federal, Goiás, Manaus, Acre e Rondônia. Além disso, estão negociando para entrar no mercado do Rio de Janeiro e Espírito Santo. A empresa também pretende iniciar suas operações na região nordeste do país em novembro.

Desde a sua fundação, em 2019, a startup recebeu um aporte inicial de R$ 135 mil da Bossanova Investimentos pelo Inova SC e agora foi aprovada para a terceira fase com um aporte de mais de R$ 200 mil. Em 2021, a 4 Hábitos faturou R$ 180 mil e a previsão para 2022 é de faturar 10 vezes mais que o ano passado, chegando a marca de R$ 1 milhão ou 1,7 milhão.

A startup tem planos de sair do “vale da morte” – fase de alto risco para a empresa, além disso, ela também pretende abrir novas rodadas de investimentos, aumentar o seu time de colaboradores e expandir os seus serviços para fora do território brasileiro, tornando – se uma multinacional.

Histórias de mudanças que merecem ser contadas

Ana conta que uma das histórias mais legais foi o primeiro caso no qual a startup atuou, a empresa em questão era de transporte público. “Imagina 300 mil pessoas que andam diariamente, 3 mil funcionários, 850 veículos, e mesmo assim fomos testar a nossa tecnologia no setor. Então, entrei no ônibus e descobri que de 100%, 50% do resíduo vêm de dentro do ônibus, e eu tinha o desafio de reduzir esses resíduos em 50%”, comenta Ana.

Ela completa, dizendo que as lixeiras tinham três divisórias para o descarte correto e, depois disso, criou um pocket vídeos com conteúdo para Comunicação e engajamento da população, no qual era exibido, tanto para o funcionário, quanto para o passageiro, informações diárias sobre o uso correto de descartes de lixo. Em 28 dias a startup conseguiu bater a meta estipulada.

“O primeiro passo para uma transformação genuína é o diagnóstico. A empresa precisa entender onde estão os seus pontos fracos, para saber o que precisa ser consertado”, finaliza Arsky.

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