* Por Marcus Figueredo

Eu e o Sérgio, meu sócio desde sempre, criamos nosso primeiro sistema de telemedicina ainda na faculdade, no meio do curso de engenharia de computação. Apesar da tecnologia ter sido super aceita nos artigos científicos, ter gerado uma patente internacional e várias congratulações de médicos e pacientes, nós levamos mais de 2 anos para fechar nossa primeira venda.

Anos mais tarde, já como empreendedores de certo sucesso, uma coisa parecida aconteceu com nosso primeiro equipamento médico. Nós levamos seis meses para criar o estado da arte em oximetria de pulso. E gastamos mais de 18 meses para conseguir um registro na Anvisa e poder finalmente vendê-lo. Hoje, esse equipamento é utilizado em hospitais do Brasil todo e em vários locais do mundo.

Em 2017, desenvolvemos o Hilab, uma nova tecnologia para realização de exames de sangue pela internet. Tivemos que empreender uma grande batalha contra o establishment para levar a nossa tecnologia até as pessoas. Hoje, estamos em mais de 250 cidades do país e 15 das 25 maiores redes de farmácias brasileiras são nossas clientes. Nossa tecnologia está na linha de frente dos exames para covid-19.

A grande verdade é que a saúde é lenta em aceitar inovações. Isso aconteceu conosco e acontece com todas as outras startups de saúde. De certa forma, é natural e até faz sentido. Inovar em saúde sempre é perigoso. E é importante que sejamos cuidadosos em seguir normas técnicas e sempre proteger a vida dos pacientes. Por outro lado, não podemos transformar o zelo em uma desculpa (ou até uma reserva de mercado) para não inovar. Ouso dizer que as barreiras regulatórias, criadas inicialmente para proteger os pacientes e a saúde pública, muitas vezes se transformam em grandes barreiras à inovação.

Em tempos de pandemia, essas barreiras precisam ser revistas. Temos conhecimento sobre a velocidade de disseminação do coronavírus e sua taxa de letalidade. O sistema de saúde como um todo precisa responder de forma rápida. No cenário que estamos vivendo, temos que aceitar as novas tecnologias para também conseguirmos desenvolver capacidade de tratamento. A principal dificuldade da saúde, que está sendo superada, é a necessidade de abraçar a inovações com velocidade, aceitar as mudanças e dar uma resposta ágil para o combate ao vírus. Por isso, mudar as regras do jogo e causar disrupções tecnológicas é necessário para vencer a pandemia.

As tecnologias que podem virar o jogo estão aí: exames de sangue pela Internet, telemedicina, Inteligência Artificial, entre outras. Não tenho dúvidas que esses três campos da tecnologia irão contribuir em muito ao combate à covid-19. Mas acredito que o mais importante é mudarmos a mentalidade do setor e aprender a abraçar a inovação com mais agilidade. Não podemos esquecer que todas essas tecnologias já existiam há algum tempo no mercado, e não estavam ainda mais disseminadas no setor por razões que se mostram hoje pequenas.

Se conseguirmos aprender a introduzir inovações de forma rápida (e segura) à saúde, certamente sairemos mais fortes dessa crise. E estaremos preparados para os próximos vírus que (certamente) virão.

* Marcus Figueredo é CEO da Hi Technologies. É engenheiro de computação, doutor e mestre em informática pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). É um dos fundadores da Hi Technologies e do Hilab.

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