A pandemia do novo coronavírus afetou especialmente os pequenos negócios. Pesquisa feita pelo Sebrae com a FGV mostra que 87% das micro e pequenas empresas tiveram uma redução de faturamento por causa da crise, sendo que 3% dos negócios fecharam. O acesso à crédito também não é fácil, somente 16% das empresas que solicitaram conseguiram.

Para sobreviver, muitas empresas precisaram inovar em seus negócios, apostando em canais digitais. Antes da crise, 47% das PMEs vendiam por meio das redes sociais, agora são 59%. Uma delas foi a fintech Cora, que criou uma plataforma para ajudar comerciantes de bairro a vender online. Outra foi a rede de restaurantes naturais Boali, que começou a instalar geladeiras em áreas comuns de condomínios para chegar até os consumidores durante o período de isolamento social.

Apesar de inovação ser uma saída, nem sempre o processo é simples. Muitas vezes, os empreendedores não sabem como tirar uma ideia do papel para começar um negócio ou não conseguem diferenciar os bons dos maus planos na hora de mudar os rumos da empresa na crise.

Para ajudar no processo inovativo, Exame separou dicas de inovação de grandes empreendedores brasileiros e estrangeiros. Confira abaixo:

O que você quer não existe? Crie (Paulo Veras, fundador da 99)

Assumir um posicionamento disruptivo pode significar, muitas vezes, fazer uma difícil escolha entre ouvir o conselho dos mais experientes ou seguir suas intuições. A empresa de mobilidade urbana 99 passou por isso em 2013, quando teve a ideia de criar um meio de pagamento próprio para smartphones, assumindo os riscos das transações.

“O sistema bancário que usávamos até então era super atrasado e ouvimos de pessoas do mercado que a decisão quebraria nossa empresa. Hoje vejo que, se a gente não tivesse mudado, acabaríamos na vala comum do ‘não dá para fazer’ e nosso produto ficaria bem pior”, afirmou o fundador Paulo Veras em 2018.

“Óbvio que você não pode ser maluco e ignorar todos os conselhos que recebe, mas pense também no valor que desenvolver – e acertar – traria para seu mercado, em relação ao que a concorrência está fazendo”, diz Veras.

Foque nos problemas (Gustavo Caetano, fundador da Samba Tech)

Onde estão os grandes problemas estão as grandes oportunidades. O empreendedor Gustavo Caetano, fundador da startup de educação em vídeo Samba Tech, acredita que na hora de inovar em um novo negócio, os empreendedores precisam estar atentos às necessidades dos clientes.

“A área de saúde, por exemplo, tem um monte de oportunidades. As pessoas não param de ficar doentes, não param de ir ao médico, ao dentista, essa é uma área que é gigante, mal aproveitada”, disse Caetano à EXAME em fevereiro, quando lançou seu livro “Faça Simples”, para ajudar a tirar negócios do papel.

“A gente até fala no livro, você precisa olhar primeiro os grandes mercados e aí entender o que pode fazer de diferente dentro desse dele. A gente está vivendo a era de Davi versus Golias, pela primeira vez o pequeno passa o grande, desde que ele tenha foco e consiga encontrar um nicho dentro de um mercado grande”, diz o fundador da Samba Tech.

Coloque as pessoas no centro (Fred Trajano, presidente do Magazine Luiza)

Muito do sucesso que o Magazine Luiza colhe hoje veio de mudanças feitas pela antiga presidente, Luiza Helena Trajano. Em um evento, Fred Trajano contou que um dos grandes méritos de sua mãe foi ter colocado seus próprios funcionários como o centro da empresa.

“Essa é muito uma característica de startup, a de diminuir a burocracia e focar no nosso propósito: democratizar a tecnologia. Não é só bater a meta do mês”, diz o empresário.

Inspirado também pelas startups, o Magazine Luiza decidiu internalizar a área de tecnologia e criou o Luizalabs em 2014. O departamento de pesquisa e desenvolvimento de software foi a chave para a varejista conseguir fortalecer seu e-commerce sem precisar comprar tecnologia de terceiros. Hoje, trabalham mais de 800 pessoas na unidade.

Crie uma cultura interativa (Ed Catmull, cofundador da Pixar)

No livro “Criatividade S.A: Superando as forças invisíveis que ficam no caminho da verdadeira inspiração”, Ed Catmull, cofundador do estúdio de animação americano Pixar, conta como sua empresa conseguiu construir uma cultura baseada na inovação e criatividade. Para ele, um dos pilares mais importantes era garantir a interação entre as pessoas.

Enquanto ele presidia a empresa, os esboços dos filmes eram chamados de bebês feios, feitos para serem refeitos e aprimorados. Para o empresário, não era possível haver inovação replicando as fórmulas que deram certo no passado. Catmull acredita que a inovação necessariamente precisava passar pela coletividade e pelo processo de tentativa e erro.

“Não espere que as coisas sejam perfeitas antes de compartilhá-las com outras pessoas. Mostre antes e mostre frequentemente. Vai ser bonito quando chegarmos lá, mas não será bonito ao longo do caminho”, escreve o cofundador.

Prepare-se para falhar (Elon Musk, fundador da Tesla)

Ainda que os empreendedores devam se planejar para o sucesso, eles não podem deixar de ter um plano reserva para caso o negócio não saia como o planejado. O empresário Elon Musk, fundador da Tesla e da Space X, acredita que se uma ideia é importante, ela deve ser testada, ainda que o resultado mais provável não seja o sucesso.

Em entrevista ao programa americano de televisão “60 Minutes”, ele disse que esperava que a sua empresa de carros elétricos fracasse. “Mas eu pensei que pelo menos poderia mudar a falsa percepção que as pessoas têm de que um carro elétrico tem que ser feio, lento e entediante como um carrinho de golfe”, diz o empresário. Para Musk, o importante é arriscar.

Teste as ideias novas (Mark Zuckerberg, presidente do Facebook)

O segredo por trás do processo constante de inovação do Facebook vem do modelo de gestão adotado pelo fundador e presidente da companhia, Mark Zuckerberg. O empresário construiu a empresa seguindo o mantra “mova-se rápido e quebre coisas”, o que deu liberdade para seus engenheiros de software constantemente testarem novos projetos.

Em uma conversa com Reid Hoffman, criador do Linkedin, Zuckerberg conta que não há nunca uma única versão da rede social no ar, mas aproximadamente 10 mil, cada uma testando uma funcionalidade diferente.

“No dia a dia, muitas das decisões que estou tomando são: ‘ok, isso vai destruir a empresa? Se não, deixe-os testar”, diz o fundador do Facebook. “Se o custo do teste não for muito alto, em geral, aprenderemos muito mais experimentando e deixando as equipes irem explorar as coisas que valem a pena explorar do que ter uma mão pesada isso”, afirma.

Foque no essencial (Steve Jobs, cofundador da Apple)

Ao voltar para a Apple após doze anos longe da empresa, Steve Jobs conseguiu inovar como nunca e oferecer ao mundo dispositivos de computação, telefonia e música revolucionários. O empresário acreditava que a saída para inovação era centrar os esforços no principal. “Inovação vem de dizer não para mil coisas”, dizia Jobs.

Segundo o escritor Carmine Gallo, autor do livro “Faça como Steve Jobs”, o empresário reduziu o número de projetos da Apple quando retornou à companhia, garantindo um time dedicado para cada um dos produtos.

No lançamento do iPhone, a estratégia foi a mesma. Enquanto outras companhias tentavam incluir diferentes funções e botões, ele apostou em um dispositivo simples e focado no usuário.

Tenha paixão pelo negócio (Jeff Bezos, fundador da Amazon)

Em junho de 2019, no evento da Amazon re:MARS, Jeff Bezos foi ao palco compartilhar com os presentes um pouco de suas ideias sobre ter sucesso no negócio. Um dos pontos destacados pelo empresário foi o da paixão pela empresa e pelo produto. Segundo Bezos, é preciso acreditar e gostar do negócio para que se tenha sucesso.

“Você vai competir contra aqueles que são apaixonados. Você tem que ser um missionário, não um mercenário. Paradoxalmente, os missionários terminarão ganhando dinheiro”, afirma Bezos.

* Por Exame.com

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