* Por George Millard

Vivemos num País que ultrapassa a marca de 2,2 milhão de casos de covid-19 e quase 80 mil óbitos pela doença.  Nesse contexto, uma grande dúvida permanece entre empresários, stakeholders, funcionários, prestadores de serviço, visitantes e autoridades municipais e estaduais: como garantir um ambiente seguro no retorno ao trabalho presencial?

Claro que temos as ferramentas tradicionais para auxiliar na prevenção da doença, que vão do uso de máscaras, luvas, tapetes com água sanitária e álcool em gel ao distanciamento entre as pessoas. Há também kits de testes para identificação de contaminados com o novo coronavírus, o Sars-Cov-2. Neste caso, os mais confiáveis são do tipo RT-PCR, considerados “padrão ouro” pelo americano Center for Disease Control and Prevention (CDC) para um diagnóstico correto.

Ideal mesmo seria ter uma vacina, mas sabemos que ainda levará um tempo entre a finalização dos testes, produção e chegada à sociedade. Enquanto isso, saiba que é possível ter um nível de segurança aceitável no retorno às atividades, com o auxílio da tecnologia.

Já temos no mercado algumas soluções como os medidores de temperatura – o termômetro digital infravermelho mede a temperatura a poucos centímetros da pele e oferece o resultado em menos de 1 minuto. Além de mostrar em numeral a temperatura, a maioria conta com um sistema de cores: verde quando não há febre, amarelo para febre moderada e vermelho para febre alta.

Os medidores são adotados como padrão em vários protocolos municipais, como, por exemplo, na entrada de shoppings centers e outros locais públicos. Porém, existem dois inconvenientes:  a necessidade de aproximar o aparelho e o fato de que uma temperatura baixa não garante 100% que a pessoa não esteja contaminada.

Isso acaba valendo também para os medidores de temperatura mais sofisticados, como câmeras de controle infravermelho ou termográficas de detecção de calor corporal, mais caros e eficientes. Porém, a dúvida continua: como ter certeza de que uma pessoa não esteja com covid-19, já que alguns estudos revelaram que é possível carregar o vírus e infectar os outros em até 3 ou 4 dias antes de demonstrar qualquer sintoma? Se ela for assintomática, transmite o vírus e não manifesta febre.

Nesse sentido, startups brasileiras de vários setores estão criando produtos ou adaptando suas soluções para auxiliar a população, neste momento em que o País e o mundo sofrem com a pandemia. Algumas delas utilizam o cruzamento de dados com soluções de Analytics e Inteligência Artificial. Um exemplo é a Sophie, da Stefanini, que usa Inteligência Artificial para tirar dúvidas. Vantagem: a Sophie pode ser disponibilizada gratuitamente no site ou intranet de uma empresa, com uma extensa base de conhecimento sobre a covid-19.

Há também outras ferramentas inovadoras que têm desempenhado um papel fundamental na prevenção e combate à doença. São elas:

Mapa brasileiro da covid-19: o índice mostra o percentual, por estado, da população que está respeitando a recomendação de isolamento social. Com ele, as autoridades podem direcionar recursos de saúde, segurança e comunicação. Informação é a chave no mundo atual e a tecnologia dá acesso a uma infinidade de informações estruturadas. Sem uma forcinha da tecnologia, as informações não passariam de dados desconexos.

Novos produtos: a empresa Aya Tech criou produtos químicos inovadores, utilizando nanotecnologia, como um repelente que pode ser usado em pets e na roupa.  Já a startup Gy lançou um desinfetante que substitui o álcool gel e pode eliminar uma série de vírus, entre eles o SARS-CoV-2. Pesquisadores da empresa paulista Nanox desenvolveram um tecido com micropartículas de prata na superfície que demonstrou ser capaz de inativar o coronavírus. Foram também lançados robôs com equipamentos Ultravioleta (UV) capazes de eliminar o vírus de ambientes e túneis com vários tipos de produtos são usados na desinfecção de pessoas. A questão é quão segura são para os seres humanos e quais os riscos de exposição. Nesse momento dezenas ou centenas de empresas estão buscando, além de uma vacina, remédios e outros produtos que ajudem a colocar um ponto final à pandemia.

Rastreamento de pessoas: muito se tem falado do rastreamento de pessoas pelos smartphones. O GPS é uma tecnologia disponível há bastante tempo, que pode ser usada para avaliar a eficácia da política de distanciamento social. O GPS do smartphone realmente funciona bem para as autoridades municipais e estaduais avaliarem e compararem dados sobre contágio e percentual de população “em casa” x “fora de casa”. O grande problema é que o GPS não consegue verificar a proximidade exata entre as pessoas. Além disso, existe uma discussão se o uso do GPS para monitoramento de dados sobre contágio implicaria em invasão de privacidade.

Outra tecnologia interessante para rastreamento é o RFID, amplamente usado por empresas de logística, pois permite visibilidade dos processos, precisão e velocidade em toda a cadeia de suprimentos. Os itens podem ser acompanhados, desde o momento que deixam a linha de produção, até o cliente final, permitindo alto controle sobre os estoques, redução de perdas e confiança nos processos de recebimento, armazenagem, separação e expedição.

Com a proposta de garantir uma jornada segura (safety journey, em inglês) na retomada das atividades presenciais, algumas companhias, juntamente com as autoridades responsáveis, avaliam a utilização do RFID para identificar possíveis riscos nos ambientes.

A tecnologia pode rastrear a movimentação de pessoas dentro da empresa. Não apenas dos funcionários, mas também dos prestadores de serviço e visitantes. As etiquetas RFID podem ser colocadas nos capacetes de funcionários, nos uniformes, crachás, em pulseiras autoadesivas para visitantes, ou seja, podem ser aplicadas de várias maneiras, de acordo com o ambiente e necessidade da companhia.

Uma rede de antenas faz a leitura identificando as pessoas, rastreando o fluxo de cada um pelos diversos pontos de leitura, além de permitir ou restringir acessos. Dessa maneira é possível mapear, com precisão, o fluxo de movimentação de cada indivíduo, em quais locais entrou, quanto tempo ficou em cada espaço, quais outros indivíduos estavam no mesmo local e hora. Esses dados ficam registrados no sistema e podem ser consultados dias ou semanas depois para verificação de onde esteve cada indivíduo. É uma forma de auxiliar as áreas de RH, caso surja algum novo caso de covid-19. A partir do histórico, é possível saber quem exatamente esteve próximo àquele colaborador, locais onde circulou e por quanto tempo, para que a empresa tome as medidas de segurança necessárias e evite novos contágios.

Enquanto aguardamos ansiosos a descoberta e checada de uma vacina, a tecnologia pode ser uma aliada importante no controle da covid-19, especialmente com o retorno gradual dos colaboradores aos seus ambientes de trabalho.

O importante é escolher bem dentre as soluções inovadoras que podem nos ajudar a reduzir, de maneira significativa, os riscos para que tenhamos uma jornada segura no “novo normal”.

* George Millard é CEO da Mozaiko, empresa do Grupo Stefanini.

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