* Por Valéria Vicenti

Em um país com 1,4 bilhão de habitantes, com uma classe média que chegará, em poucos anos, ao número de 500 milhões de habitantes, desilusão profissional, perder o emprego, ser seu próprio chefe podem ser gatilhos pra empreender em alguns poucos casos, mas é necessário coragem, gana, acreditar que é possível tornar tudo muito melhor.

Um amigo nativo brinca que o empreendedor na China dorme como um bebê: acorda a todo momento! No caso, acorda e fica pensando em como vencer seus novos desafios, novas expectativas vindas da imensidão de clientes.

Mas cá entre nós, quem não sonha em cair no gosto de, que seja, 1% desta população?

O empreendedorismo é uma lição a parte na China, é um capítulo que cresce de forma exponencial e robusta. O presidente afirmou: “estamos construindo um país que será reconhecido não mais pelo seu ‘Made in China’, e sim pelo ‘Create by China’”, e isso é notório e real.

Para entendermos esse crescimento, essa robustez, precisamos entender os passos firmes que são dados pelos empreendedores locais no gerenciamento dos seus negócios. Diferente de algumas culturas, aqui é tudo muito bem planejado. Define-se muito bem o que se deseja do negócio e age-se muito rápido. Aqui não se vislumbra retorno imediato, na maioria dos casos são investimentos a longo prazo.

Aqui se definem os riscos. Riscos? Sim, riscos! Aqui a velocidade de entrada no mercado sobrepõe-se a excelência do produto final. Acredita-se que os grandes ajustes, a grande perfeição acontece por meio da vivência com a experiência do cliente, mais ou menos assim: o bom, se aceito, abrirá caminho para o perfeito e, consequentemente, terá o seu crescimento por escala.
Certo? Errado? Aqui funciona e dá certo!

Deu certo? Está atendendo o plano definido? É a receita esperada? Continua, pois tem uma multidão de chinesinhos potenciais a se apaixonarem pelo seu produto!

Mesmo trabalhando com investimento a longo prazo, o controle acirrado do plano estratégico norteia se o negócio continuará firme e forte ou se fechará rapidamente. Aqui negócio não é tratado como um filho. Não tem emoção no ar, não há lamentações pelo negócio ter dado errado e, sim, uma velocidade de reação impressionante.

Entendemos que se soma estratégia de sucesso + experiência empreendedora + importância da formação da equipe. De novo, não há espaço para emoção e nem amadores. Se deseja e se têm os melhores ao lado: o melhor profissional, o mais inspirado e inspirador, aquele que agregará com seu conhecimento, com sua dinâmica e comprometimento, e que, porque não, saberá até mais do que o próprio empresário, afinal, o que se acredita é que cada um realizará o melhor em sua área e poderá agregar às outras, assim, todos ganham e crescem juntos.

Hierarquia, atividades e rotinas claras também despertam à nossa vista, pois nesta cultura são quesitos explícitos que se faz presente e sentimos que não inibe, pelo contrário, promove uma gestão mais profissional e firme sobre a estratégia.

O gerenciamento contínuo do plano, dos dados e dos resultados se faz imprescindível e é necessário que seja uma atividade presente na rotina de todos diariamente. Notamos que é um dos capítulos importantes desta grande cartilha de sucesso.

Resumindo, o empreendedor chinês é rápido e feroz, assim, não dá para rever itens críticos e tomar decisões importantes se não houver uma conversa todos os dias com a equipe estratégica. Sim. Todos os dias. Dependendo da empresa, todo turno, podemos afirmar um monitoramento acirrado.

As expectativas são a longo prazo, então como assegurá-las se não as controlarmos diariamente? Assim, o gerenciamento dos fatos, ocorrências, riscos e desvios e, principalmente, a avaliação da eficiência das ações tomadas para reverter os problemas identificados se faz imprescindível, assegurando a robustez de todo o cenário. Reuniões rápidas, focadas, objetivas, contribuem para o sucesso.

Nesta troca de experiência, uma característica não pode ser deixada de lado: o comprometimento com a verdade. E a verdade não é imposta, ela é cultural, ela é genética. Errou? Não esconda o erro, não torça para que ele se resolva sozinho. Compartilhar rapidamente com honestidade e seriedade e com caminhos para resolvê-lo não te fará ser sacrificado ou crucificado. No momento, o mais importante não é o problema e sim a solução. É isso faz a grande diferença, não há luto, há reconstrução e redefinição da rota.

Então vamos estudar todas as possibilidades para que o negócio seja sucesso, sendo rápidos e perspicazes e se por acaso, algo der errado e o esperado não acontecer: vamos recomeçar!

* Valéria Vicenti é embaixadora Rede Mulher Empreendedora na China, Correspondente e Mentora do clube fechado curitibano Clube da Alice, Engenheira, mais de 20 anos de experiência executiva em gestão de pessoas e processo no segmento automobilístico.

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