Maíra Pimentel e Samara Werner estavam no centro da discussão sobre um novo paradigma de educação no Brasil. E decidiram transformar o problema em um negócio de alto crescimento, para que a escala fosse sinônimo de impacto e o crescimento de transformação da sociedade.

Faz um tempo que isso aconteceu, mas Samara Werner não esquece desse episódio. Na época, a empreendedora liderava o projeto Telemar Educação — que, meses depois, transformou-se no Instituto Oi Futuro. A proposta era identificar os municípios com menor IDH do país e criar uma comunidade virtual de formação de professores, levando tecnologia e educação como ferramentas de desenvolvimento social. Assim, os professores mais preparados, conectados e atualizados, mudariam a qualidade do ensino, impactando os alunos que impactariam a cidade — e, por consequência, o país.

Em uma das visitas para implantar o projeto, no Norte do País, depois de instalar redes de internet e computadores para a comunidade, um professor de inglês veio conversar com Samara.

— Você não sabe o que significa para mim poder ler todos os dias o The New York Times.

O professor estava visivelmente emocionado. Poder acessar informação de nível global, vivendo em uma cidade com um dos piores índices de desenvolvimento humano do país era uma oportunidade poderosa de transformação. Algo que Samara sempre acreditou: a tecnologia pode ampliar o acesso à educação, de forma escalável, acelerada e transformadora. De que forma um aluno na Amazônia, por exemplo, teria aulas recorrentes com um professor especialista de Stanford, se não fosse pela internet? Ou como cidades isoladas do país poderiam ter acesso à formação de qualidade, sem precisar de deslocamentos, viagens e gastos com transporte?

A tecnologia democratiza o acesso. E esse é o caminho mais rápido para transformar a educação.

Em 2019, essa conexão faz todo sentido. O ensino à distância cresceu abruptamente nos últimos anos, as Edtechs ganham cada vez mais espaço, plataformas como o Coursera e a Khan Academy tornaram-se conhecidas no mundo todo e a inteligência artificial já tem sido usada para personalizar o ensino em larga escala. Mas, em 1988, quando Samara se formou, nada disso existia. A empreendedora tinha como inspiração o trabalho de sua mãe como diretora de escola e sempre se interessou por educação. Mas a primeira década de sua carreira foi dedicada à Engenharia Elétrica, sua área de formação, trabalhando com desenvolvimento de software para controle de processos em usinas de energia elétrica.

Até que a internet chegou ao Brasil. E, pela primeira vez, Samara enxergou a oportunidade de usar os conhecimentos que já tinha em desenvolvimento de software, aplicados à educação. Depois de 10 anos trabalhando na mesma empresa, decidiu sair. A força da sua decisão foi tanta que, três semanas depois, recebeu uma proposta. Ela comentava com todo mundo sobre o seu sonho e, em meio a diversas indicações, aceitou o convite para trabalhar na B-Education, uma plataforma de educação corporativa online.

“Saí de uma empresa com 11 mil funcionários para uma com três.”

Samara Werner

Aquele era o início dos anos 2000, antes mesmo de o YouTube nascer, um momento que parecia cedo demais para a plataforma nascer e ter sustentabilidade financeira. Por essa razão, dois anos depois de lançada, a empresa precisou migrar o conteúdo para o formato presencial. Nesse momento, Samara foi indicada para liderar um projeto social na antiga Telemar, atual Oi. Aquele era o início, oficial, da jornada de Samara para trabalhar em educação. Meses depois, já em 2002, tornou-se diretora do núcleo de educação de um novo instituto que nascia: o Instituto Oi Futuro. Nesse momento, a história de Samara encontra a de Maíra Pimentel.

Maíra já tinha empreendido dois outros negócios, na área de comunicação e web, trabalhado com tecnologia e telecomunicações. Em 2004, ela estava no auge de sua carreira. Salário, bônus, benefícios. Foi indicada por uma amiga para uma entrevista de emprego no Oi Futuro. O job duraria três meses, como freelancer e o salário bruto era quatro vezes menor que seu trabalho atual. Na salinha de mesa redonda, Maíra seria entrevistada por Samara.

“Lembro até hoje – uma mesinha redonda, a gente se apresentou e, depois de alguns minutos de conversa, a Maíra me disse:

— Eu quero trabalhar aqui.

— Mas o salário que a gente oferece é menor. Nós somos um instituto, estamos aqui para construir um Brasil diferente.

— Não tem problema o salário. Quando eu começo?

E logo depois dessa conversa, ela veio trabalhar como gerente da área de Inovação do instituto.”

Samara Werner

Por 10 anos, em parceria com o NAVE (Núcleo Avançado em Educação), o instituto formou milhares de jovens para as economias digital e criativa, desenvolvendo o espírito empreendedor e ajudando estabelecer suas primeiras conexões profissionais no mercado de inovação e tecnologia. Em 2010, Maíra topou o desafio de implementar a operação do Ensina Brasil, um programa inspirado no Global Teach for All de desenvolvimento de lideranças para mudar a educação, a partir da sala de aula.

No centro da discussão

Maíra e Samara estavam no centro da discussão sobre a transformação da educação no país. Observando tantos movimentos independentes de educação da primeira infância, jovens e adultos, EAD, gamificação e ensino adaptativo, além de novas metodologias pedagógicas, as duas decidiram criar um grupo de estudos para conversar sobre o assunto. Eram 8 pessoas apaixonadas por educação que se encontravam toda semana na casa de Samara. Dessas conversas, iniciadas em 2007, nasceu a semente e o time fundador da Tamboro, em 2011.

Ao estudar as principais tendências em educação no mundo, esse grupo percebeu que, mesmo os países que eram referência em educação tradicional, estavam reformulando seus paradigmas. E essa poderia ser uma oportunidade única para o Brasil, pela primeira vez, recuperar as lacunas históricas de desenvolvimento do nosso sistema educacional. O cenário de volatilidade e incerteza que o mundo começava a viver exigia a criação de novos modelos pedagógicos. Com um ecossistema empreendedor mais maduro e o acesso às principais descobertas em educação pelo mundo, o caminho parecia claro: aquele era um terreno fértil para o surgimento de empresas com velocidade e autonomia para recuperar a lacuna que o governo não seria capaz de preencher.

Essa transformação poderia acontecer de inúmeras formas. A única premissa era usar a tecnologia como ferramenta de alcance. Poderia ser uma ONG, um projeto ou um empreendimento. Mas o que os quatro sócios perceberam é que, como negócio de impacto social, eles teriam a liberdade de captação de recursos, desenho da estratégia e velocidade que uma organização sem fins lucrativos nunca teria, por conta da burocracia envolvida na captação de recursos.

Entre impactar a sociedade e gerar lucro, elas decidiram seguir o caminho do meio.

Em 2011, com a intenção clara de empreender um negócio de EdTech, Samara, Maíra e mais dois sócios encontraram uma oportunidade de negócio no desenvolvimento de soft skills.

“A gente percebeu que o futuro do mundo não é de conhecimento técnico, com as chamadas hard skills, mas sim de real skills — criatividade, inovação, comunicação e tomada de decisão, para citar algumas. Se você não tem habilidade para se reinventar o tempo inteiro, trabalhar de forma colaborativa ou adquirir uma postura de aprendiz, não vai ter um espaço nesse novo mundo. Ali nós percebemos que, para colocar o Brasil num nível de igualdade com o resto do mundo, teríamos que desenvolver habilidades que não são contempladas no currículo formal.”

Samara Werner

Ali estava a oportunidade. Construir um novo paradigma pedagógico voltado para habilidades que não são desenvolvidas na educação formal, usando a tecnologia para gerar alcance, escala e impacto. Faltava apenas um nome. Foram vários os brainstormings do grupo, toda semana: Edu do Futuro, Edu ao cubo…Até que Samara descobriu o nome perfeito, em meio ao Festival de Cinema do Rio de Janeiro. Um dos filmes em cartaz falava sobre a vida dos Ingarikós, em Roraima. E o nome do filme era:

Tamboro: para todos, sem exceção.

Era isso! O objetivo do negócio, desde o início, era levar educação para todos, sem exceção.

O nome estava pronto, os sócios definidos, e a proposta desenhada. Aquele era o início da Tamboro.

Os primeiros clientes foram universidades do grupo Ânima que ofereciam os cursos online como disciplinas regulares complementares. Logo em seguida, o Instituto Natura os procurou para criar um projeto personalizado para consultoras. Em seguida, a tecnologia de avaliação das habilidades que já era usada como parte da metodologia dos cursos foi adaptada para se transformar também em uma etapa do processo seletivo de grandes empresas, de forma mais escalável e eficiente do que dinâmicas em grupo.

Essa tecnologia, cada vez mais apurada, de identificação, monitoramento e melhoria das soft skills de um profissional, já foi validada pelo mercado e produz resultados visíveis aos mais de 80 mil usuários que passaram pela plataforma. Agora, sete anos depois, o desafio da Tamboro é escalar a tecnologia para, de fato, transformar a formação do jovem brasileiro.

Para isso, as duas empreendedoras, Samara Werner e Maíra Pimentel foram selecionadas para o programa Scale-Up Endeavor Transforma, oferecido pela Dell, Intel e Omidyar Network. Com o apadrinhamento de Vitor Peçanha, Empreendedor Endeavor da Rock Content, agora elas trabalhavam para desenvolver uma máquina de vendas robusta que aumente a atração de empresas, universidades e clientes e leve a Tamboro a um novo patamar.

São histórias como essa que contam a trajetória por trás das empreendedoras de alto impacto. Mulheres como Samara e Maíra, orientadas pelo propósito e focadas no crescimento, que enxergam a escala como ferramenta para ampliar o impacto que podem ter no mundo. São elas que constroem um novo paradigma para o ecossistema empreendedor no Brasil ser mais feminino — abrindo caminho para as empreendedoras que vêm logo atrás.

O post Novas habilidades para todos, sem exceção: o sonho grande das empreendedoras à frente da Tamboro aparece em Endeavor.

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