* Por Clau Sganzerla

Empresas lideradas por mulheres representam 40% das organizações privadas nos EUA, mas recebem apenas 2% dos investimentos de venture capital. No mundo, tais proporções seguem padrão similar. Há vários estudos científicos que explicam, em parte, estas estatísticas paradoxais.

A hipótese do “viés de gênero”, base para grande parte destes estudos, sugere que investidores, na sua maioria homens, selecionam enviesadamente mais empreendedores do sexo masculino para receber investimentos de venture capital. Este comportamento nos faz questionar o que exatamente está por trás disso quando se trata de investimentos de venture capital em empreendimentos liderados por homens ou mulheres.

Um grupo de pesquisadores da Universidade de Columbia e de Harvard, liderados por Dana Kanze, analisou pitches de startups para investidores de venture capital em várias edições anuais do TechCrunch Disrupt Startup Battlefield, em Nova Iorque, na tentativa de encontrar uma explicação para o fato. Mais especificamente, analisaram os tipos de perguntas que os investidores fizeram para as startups lideradas por empreendedores homens e por mulheres.

O grupo observou que as questões feitas pelos investidores para os empreendedores homens focaram, majoritariamente, em como “acelerar crescimento” e em expressões do tipo “tomar riscos”, “metas de sucesso” e “ambição”. Estas perguntas foram classificadas como sendo do tipo “promotion”. Já as perguntas feitas para empreendedoras mulheres tinham foco em “defender”, “prevenir perdas” e “barreiras competitivas”. Estas foram classificadas como sendo do tipo “prevention”.

O resultado da análise constatou que as startups que preponderantemente receberam perguntas do tipo “promotion” obtiveram sete vezes mais investimentos do que as que receberam questões do tipo “prevention”.

Observando mais de perto, notou-se que receber preponderantemente perguntas enviesadas do tipo “preventioin” fez com que as empreendedoras se posicionassem de forma a “jogar para não perder”. Ao passo em que as perguntas do tipo “promotion” naturalmente posicionaram os empreendedores homens em um “jogo para ganhar”.

Os pesquisadores argumentam que os investidores tipicamente procuram oportunidades de crescimento agressivo, aceitam riscos e evitam discussões defensivas e sobre perdas. Há maior afinidade com questões sobre crescimento de mercado, expansão geográfica e ruptura de modelos de negócio – questões que foram mais raramente feitas para as mulheres.

Assim, as empreendedoras largam em grande desvantagem na corrida para levantar investimentos para suas startups, pois acabam se posicionando de forma defensiva e preventiva, justamente devido ao tipo de perguntas que recebem e à forma como as respondem.

Curiosamente, descobriu-se também que ter mais investidoras mulheres para decidir sobre investir ou não nas startups poderia parecer uma solução para este problema, mas não é! Independentemente do gênero do investidor, o viés das perguntas se mantém. Ou seja, investidores homens ou mulheres tendem a direcionar os mesmos tipos de perguntas enviesadas dependendo do sexo do empreendedor.

Mudando o jogo

Há implicações práticas relevantes deste estudo tanto para as empreendedoras em busca de investidores como para os próprios investidores. Para elas, a lição é muito clara: ao se deparar com questionamentos do tipo “prevention”, devem se posicionar com respostas do tipo “promotion”. Ou seja, é necessário reverter o jogo, mudar o diálogo e não focar nas defesas nem nas ações de prevenção de perdas, mas sim explicitar as oportunidades de crescimento acelerado, capacidade competitiva, ambição e metas agressivas.

Para investidores, reconhecer que existe este viés de gênero no diálogo com as startups é muito importante por dois motivos.  Primeiro porque podem estar deixando de fazer perguntas de “prevention” para empreendedores homens, ou seja, há chances de estarem subestimando os riscos e os downsides existentes nestes investimentos, criando uma exposição desnecessária.

Segundo porque, com relação às startups das empreendedoras, podem estar subestimando o potencial, deixando de investir em negócios promissores e abrindo mão de upsides existentes, apenas por deixarem de fazer, inconscientemente, as perguntas de “promotion”. Com mais perguntas deste tipo, que focam no “jogo para ganhar” no lugar do “jogo para não perder”, as empreendedoras teriam mais oportunidade de mostrar seu máximo potencial.

* Clau Sganzerla é VP de Estratégia e Inovação do Grupo Algar.

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