Bordadeiras usam o talento e o regionalismo tradicional do Seridó (RN) na produção de máscaras de proteção ao novo coronavírus e garantem uma fonte de renda em tempos de pandemia
Caicó – Famosos por estampar toalhas de mesa, guardanapos, porta-copos e outros utilitários, os bordados do Seridó também estão em equipamentos de proteção individual contra o novo coronavírus (Covid-19). Sensível ao momento delicado, um grupo de bordadeiras de Caicó (distante 200 quilômetros de Natal), que são apoiadas pelo Sebrae no Rio Grande do Norte, decidiu direcionar a produção para confecção de máscaras artesanais com motivos regionais. A ideia é atender à demanda crescente por esse tipo de item sem deixar de lado a tradição e charme do artesanato regional.
Gercineide Silveira de Araújo, de 54 anos, é uma das diversas artesãs caicoenses que passaram a produzir máscaras. Ela conta com o apoio da sua mãe, Terezinha Silveira de Araújo, de 78 anos, que, conectada pelo celular, aprendeu a modelar as máscaras a partir de vídeo aulas no YouTube.
O novo decreto estadual que determinou a obrigatoriedade de uso de máscaras em locais públicos passou a valer no último dia 07 de maio, no Rio Grande do Norte. Antes, o uso da máscara era apenas recomendado, porém passou a ser obrigatório e a fiscalização sobre o cumprimento do decreto é feita pelos profissionais de segurança pública.
Mãe e filha produzem em média 20 (vinte) máscaras por dia, e a produção consiste na seleção e corte do tecido, costura, risco (desenho), bordado e acabamento. O bordado é feito na máquina de pedal. “A produção poderia ser maior, porém, estamos revezando com outras encomendas, como redes, toalhas de banho e blusas bordadas. Risco as máscaras à noite e pela manhã bem cedo começo a bordar. Bordo com as máscaras já costuradas, o que dá um pouco de dificuldade para colocar o bastidor”, explica Gercineide.
A artesã ressalta que a pandemia do coronavírus também afetou a comercialização dos bordados, tanto devido ao isolamento social, quando ao fechamento de lojas. “Tinha blusas encomendadas há 4 meses, porém as compras diminuíram. Mesmo assim, o objetivo principal (da produção de máscaras) não é o lucro. Vendemos por um preço simbólico (R$ 5,00 a unidade) até para estimular que as pessoas comprem e usem máscara”, justifica a bordadeira. O tecido é 100% algodão e Gercineide garante máscaras forradas para reforçar a proteção. Outros modelos estão sendo adaptados. “Mamãe aprendeu no YouTube e algumas serão bordadas já com uma tiara”, destaca.
Gercineide e outras cinco irmãs aprenderam a bordar com a mãe, e até hoje ela segue o ofício. “Mamãe só tinha uma máquina. Eu estudava pela manhã e naquele horário minha mãe ensinava minha irmã a bordar. A tarde era minha vez de aprender a bordar. Eu tinha 10 anos e minha irmã 08. Quando eu comecei a bordar e ganhar dinheiro, comprei outra máquina”, lembra a artesã.
Além dos bordados em roupas de cama, mesa e banho, Gercineide borda calcinhas e vestidos, roupas infantis que são comercializadas na lojinha da COASE (cooperativa de artesãos) e na feira livre, aos sábados, no espaço da Caicó Mostra Caicó, ao lado do Mercado Público. O Sebrae tem sido parceiro com ações que estimulam o cooperativismo das artesãs e o acesso a mercado, a partir de diversas consultorias.
Reinvenção
A oportunidade vista pelas bordadeiras nesse novo negócio prova a capacidade empreendedora que o seridoense tem. “Isso mostra a capacidade do seridoense em se adaptar diante das adversidades. As máscaras com o tradicional bordado de Caicó levam a proteção e um toque de estilo e tradição”, destaca Pedro Medeiros, gerente do Escritório Regional do Seridó Ocidental do Sebrae. A queda do consumo de bordados em roupas de cama, mesa e banho pode agora ser superada com a produção de máscaras bordadas.
Outro exemplo que o Seridó tem se destacado pela produção dos equipamentos de proteção foi com a adaptação das oficinas de costura do Pró Sertão para a confecção de EPIs diversos, como máscaras, jalecos, aventais, sapatilhas, tocas, pijamas e macacões cirúrgicos. Parte dessa produção está sendo distribuída gratuitamente pelo Governo do Estado, por meio do programa RN + Protegido. A produção de EPIs foi uma forma de compensar a queda da produção de vestuário e peças de moda e garantir a manutenção dos empregos nas industrias do interior.
Segurança
Em abril, a Agencia Nacional de Vigilância Sanitária – Anvisa publicou orientações sobre a confecção de mascaras caseiras e artesanais, feitas com tecido. Logo, diversos artesãos do Seridó passaram a produzir máscaras e reforçar a proteção contra o novo coronavírus. O consumo das máscaras artesanais pelos populares evitou também o desabastecimento em farmácias e drogarias das máscaras profissionais que são fundamentais para quem trabalha nos serviços de saúde.
De acordo com a Anvisa, qualquer um pode fazer uso de máscaras de uso não profissional, inclusive crianças e pessoas debilitadas, desde que respeitadas algumas regras básicas: não compartilhar as máscaras e adotar medidas de higiene e de limpeza da máscara, além de fazer o descarte adequado. Como exigência da Anvisa, a máscara deve ser feita nas medidas corretas para cobrir totalmente a boca e o nariz, sem deixar espaços nas laterais. Deve ser confeccionada com tecido confortável e adaptar-se bem ao rosto, para evitar sua recolocação toda hora.
A vigilância sanitária orienta que a máscara deve ser utilizada por um período de poucas horas e depois higienizada. Enquanto a pessoa estiver na rua, a máscara não deve ser manipulada e, antes de serem retiradas, deve-se lavar as mãos.
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