O fruto, cultivado em Tomé-Açu, no Pará, foi o primeiro a receber o selo de Indicação geográfica no estado

Uma linha de chocolate produzida no Japão, que utiliza 100% das amêndoas importadas do município paraense de Tomé-Açu, recebe selo comemorativo das Olimpíadas de Tóquio. A Meiji, empresa que comercializa as amêndoas paraenses, utiliza como bandeira de qualidade o fato de se tratar do primeiro produto a receber o selo de Indicação Geográfica (IG) no Pará. Concedido pelo INPI – Instituto Nacional da Propriedade Industrial – o selo é usado para produtos ou serviços que são característicos do local de origem, o que lhes atribui reputação e identidade própria, além de os distinguir de seus similares no mercado.

O Pará é o maior produtor de cacau do Brasil e não existem outras cooperativas no país que exportem as amêndoas para o Japão, apenas a Cooperativa Agrícola Mista de Tomé-Açu (CAMTA). “O nosso cacau conseguiu Indicação geográfica justamente por ser um cacau fino, diferenciado, isso fica claro quando exportamos para países que possuem critérios rigorosos de exportação”, explica Fabiano Andrade, analista do Sebrae na região.

Atualmente, são quase 100 produtores cadastrados na cooperativa e o limite para a exportação são 500 toneladas anuais, o que está se tentando aumentar. “A Meiji é a segunda maior produtora de chocolate do Japão, logo é uma vitrine muito importante”, reforça Fabiano.

Sílvio Shibata, presidente da Associação Cultural e de Fomento Agrícola de Tomé Açu (ACTA), lembra que o Sebrae é um grande parceiro por oferecer profissionais especializados para a conquista da IG. “O Sebrae nos forneceu uma assessoria que, sem a qual, seria muito mais trabalhoso obter essa conquista” afirma. Vale lembrar que o Pará possui a terceira maior colônia japonesa do Brasil, sendo que em Tomé-Açu se concentra a maior comunidade. 

O Sebrae trabalha com um processo de governança dentro da Indicação Geográfica e levou consultorias especializadas em IG para a execução do processo. “Hoje trabalhamos a popularização da marca, deixar o brasão, sinal da IG, conhecido regional, nacional e internacionalmente, para trazer esse ganho ao produtor final”, diz Fabiano, ao destacar a parceria com o Governo do Estado na união de esforços para consolidar uma agroindústria de amêndoas, trabalhar o processo de rastreabilidade do produto, gerar um QR Code, além de contar a história dos produtores e expandir o produto.

Exportação

O primeiro lote de amêndoas de cacau com o selo de Indicação Geográfica de Tomé-Açu foi enviado para o Japão em julho do ano passado e foi um marco na conquista dos produtores da região. No primeiro lote foram enviadas 25 toneladas, o que rendeu cerca de 35 mil dólares para a cooperativa.

O grande diferencial do cacau de Tomé-Açu está em seu cultivo ambientalmente responsável, que simula o ambiente de uma floresta nativa: trata-se da tecnologia Sistema Agroflorestal de Tomé-Açu, um modelo exclusivo na Amazônia, desenvolvido pela comunidade nipo-brasileira. “O mercado japonês gosta de saber de onde vem o produto, para nós é a maior alegria e orgulho representar o estado do Pará”, diz Alberto Oppata, presidente da CAMTA.

O Sebrae atuou no processo por meio de diagnóstico, consultorias e preparo dos produtores, potencializando os negócios. “Atuamos desde o processo de articulação da governança para a obtenção da IG, além de montar estratégias para o momento pós indicação geográfica, tais como acesso a novos mercados, rastreabilidade dos produtos, estudos de mercado, entre outros”, conta Fabiano ao lembrar que, após a conquista da IG, os produtores se sentiram mais valorizados e o mercado passou a solicitar os produtos com certificado de origem. “Após a implantação da rastreabilidade da IG de Tomé-açu, o chocolate consumido no Japão traz as informações do produtor, sua forma de beneficiamento e produção realizados.

O chocolate comemorativo das Olimpíadas é do tipo Bean To Bar – chocolates artesanais fabricados a partir dos grãos de cacau (amêndoas) da melhor qualidade, em uma produção mais natural, que aproveita melhor as propriedades desse insumo. Isso os diferenciam dos chocolates industrializados, que são produzidos, na maioria das vezes, a partir da massa de cacau ou da remoldagem de chocolates já prontos.

Para Rubens Magno, diretor-superintendente do Sebrae no Pará, o fato de o talento e o conhecimento dos produtores de Tomé-Açu chegarem a terras tão distantes, é a prova incontestável da qualidade da amêndoa produzida no estado. “Isso nos dá muito orgulho e sentimento de conquista e gratidão. Ao oferecer um produto de qualidade que vai ter um nível internacional de exposição, só gera contentamento e inspiração para que o trabalho continue e seja cada vez melhor. Tomé-Açu é um grande exemplo de que a perseverança, cautela e aprendizado são grandes ferramentas para grandes conquistas”, finalizou.

Confira a conversa com Alberto Oppata, presidente da CAMTA:

Por que há o limite de 500t para exportação?

Temos hoje 4 milhões de pés de cacau em Tomé-Açu, desses, 1 milhão é dos cooperados da CAMTA, cuja  produção é de 800 toneladas/ano, porém, desse total, nem tudo passa pelo crivo padrão da amêndoa exportada, que precisa ser acima de 1 grama, e taxa de germinação indicada. “Só passa 400 ou 450 toneladas dentro desse padrão. É uma limitação que temos e que esperamos resolver em breve com os jardins clonais que estamos trabalhando. Nos Jardins clonais são cultivadas  espécies de cacau melhorado, propícios para exportação e que são produzidos com melhoramento genético por meio de enxertias. Os três jardins clonais da cooperativa são mantidos em parceria com a Ceplac, Universidade de Agricultura de Tokio e Meiji. Com isso, o objetivo é reduzir o custo de produção e melhorar a produtividade.

E quanto é exportado hoje?

Exportamos 450 toneladas por ano, o que representa cerca de  60% da nossa produção. O restante fica para o mercado interno, como São Paulo, Bahia, Pará e empresas, a exemplo da Natura.

Todo esse volume vai para o Japão ou também para outros países?

O Japão é o principal mercado de exportação, para onde segue a maior parte da produção. Outra parte menor, o chamado “cacau corrente” fica no Brasil para comercialização interna. Atualmente estamos em negociação com Argentina e Estados Unidos, para onde já vendemos nossa pimenta-do-reino.

Como se deu a evolução da produção?

Começamos a vender para a Meiji em 2009 e nosso melhor desempenho foi em 2018 com um trabalho intensivo de melhoramento de produtividade. Investimos na tecnologia Sistema Agroflorestal de Tomé-Açu, um modelo exclusivo na Amazônia, desenvolvido pela comunidade nipo-brasileira, o que nos permite oferecer um produto de qualidade, o chamado “cacau fino” para exportação.

Já receberam algum reconhecimento pela qualidade do produto?

Sim. O produtor Jorge Takahashi recebeu o título de um dos melhores cacaus do mundo  no Salão do Chocolate de Paris, evento de referência em chocolate/cacau fino, no ano de 2010.

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