A ACE Ventures lançou a edição 2024 do seu relatório anual sobre o mercado de venture capital no Brasil, o Venture Capital – Master Guide, reunindo dados de 19 fundos relevantes do setor. Em um cenário de recuperação após ajustes econômicos, o estudo explora tendências para os próximos anos, com foco em temas como inteligência artificial, cultura organizacional e sustentabilidade.
A pesquisa aponta que o fortalecimento da cultura organizacional é um dos fatores centrais para o sucesso de startups. Para 78% dos fundos entrevistados, pontos como seleção de talentos, comunicação eficaz e promoção da diversidade são essenciais no estágio de tração das startups. Além disso, o papel dos fundadores na consolidação dessa cultura foi mencionado por 28% dos investidores, enquanto 22% destacaram a necessidade de comunicação transparente dentro da equipe e entre investidores e empreendedores.
Pedro Carneiro, sócio e Diretor de Investimentos da ACE Ventures, destaca a importância da relação entre VCs e fundadores após a captação de recursos. Para Pedro, manter um diálogo contínuo e transparente é fundamental para a evolução do empreendedor e para a consolidação de uma cultura organizacional robusta. Nesse contexto, relatórios mensais foram apontados como principal ferramenta de acompanhamento para 50% dos investidores. Outros meios, como e-mails e comunicação via aplicativos de mensagens, foram citados por cerca de 33,5% como um diferencial.
Outro foco apontado pelos investidores é a eficiência operacional, com 60% dos entrevistados priorizando esse aspecto nas startups de seu portfólio. Além disso, receitas recorrentes e crescimento de receita foram destacados por 50% dos participantes, enquanto métricas como cash burn (45%) e Lifetime Value (38%) também apareceram como fatores de atenção.
Um dos temas mais discutidos no relatório foi o impacto da inteligência artificial generativa nas startups. O levantamento indica que 80% dos VCs acreditam que essa tecnologia trará um efeito transformador para o setor, proporcionando oportunidades de inovação para negócios (40%) e ganhos de eficiência (35%). No entanto, um em cada quatro entrevistados alerta para o risco de que a IA seja usada apenas como estratégia de marketing, sem oferecer diferenciação significativa.
Pedro ressalta que as startups brasileiras devem considerar as particularidades do ecossistema local ao adotar tecnologias como IA generativa. “Embora haja uma tendência de replicar modelos internacionais, é crucial que os empreendedores entendam as demandas específicas do mercado brasileiro para evitar adaptações ineficazes. Nesse sentido, o desenvolvimento de uma identidade própria é fundamental para o sucesso”, comenta.
Além disso, os investidores demonstraram preocupação com a dependência de startups brasileiras de produtos desenvolvidos por grandes empresas de tecnologia globais. Para eles, é importante que as startups não se limitem a consumidores passivos dessas soluções, mas que também inovem localmente, criando ferramentas que atendam a demandas regionais.
Crescimento da sustentabilidade e do foco em ESG
Com o avanço das questões climáticas no país, 55% dos fundos entrevistados indicaram um interesse crescente em investir em startups que oferecem soluções sustentáveis e focadas em ESG. A pesquisa também aponta que 35% dos fundos já implementaram práticas de ESG em suas operações, vendo nisso um diferencial competitivo no futuro.
Esse movimento está alinhado com a busca por soluções para desafios ambientais, incluindo tecnologias climáticas e práticas sustentáveis. A ACE Ventures vê essas práticas como uma oportunidade de criar valor adicional para as startups e investidores, além de atender a um mercado que cada vez mais demanda práticas responsáveis.
A pesquisa revela uma visão cautelosa dos investidores em relação às ofertas públicas iniciais (IPOs) no Brasil, com 70% dos entrevistados céticos quanto à retomada dessa modalidade no curto prazo. Eles mencionam o impacto do cenário macroeconômico e os recentes IPOs malsucedidos na América Latina, como os de GetNinjas, Mosaico e Clearsale, como fatores para a falta de otimismo.
Nesse cenário, fusões e aquisições (M&A) aparecem como alternativas viáveis para 22% dos VCs, enquanto 30% dos entrevistados sugerem que startups em estágio avançado se preparem para futuras oportunidades de IPO. Uma alternativa que tem ganhado relevância é o venture debt, especialmente para empresas que buscam capital sem diluir o controle dos fundadores. Cerca de 38% dos fundos consideram essa modalidade uma opção interessante para startups em fase avançada, embora existam ressalvas quanto aos altos custos e aos riscos de endividamento.
A questão regulatória é um ponto observado de perto pelos VCs. Setores como fintechs, cibersegurança e compliance podem se beneficiar de novas regulamentações, gerando oportunidades para o desenvolvimento de modelos de negócio inovadores. Iniciativas do Banco Central, como o Pix, o Open Banking e o Drex, são apontadas como transformadoras para o setor.
As mudanças regulatórias também abrangem o setor de jogos online e energia, que trazem novas possibilidades para investimentos. A reforma tributária, embora não diretamente ligada ao mercado de venture capital, gera apreensão entre 25% dos entrevistados, especialmente em relação ao impacto sobre stock options e a segurança jurídica. Ainda assim, fatores macroeconômicos, como juros e inflação, são considerados menos decisivos para 30% dos VCs.
Para Pedro, a escolha de investidores é um passo crítico para startups que buscam crescimento no Brasil. Ele aconselha empreendedores a estudarem a tese de investimento de cada fundo e buscarem feedbacks de outros empreendedores, reforçando a importância de um planejamento estratégico para conseguir apoio de venture capital. O Venture Capital – Master Guide 2024 está disponível gratuitamente no site da ACE Ventures, oferecendo uma visão abrangente do cenário de venture capital no Brasil e das tendências e desafios que moldarão o setor nos próximos anos.
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